A corrosão é a degradação de um material devido à ação agressiva do meio ambiente e é particularmente nefasta para as estruturas metálicas. Atualmente, na Europa, os custos diretos da corrosão atingem cerca de 3,5% do PIB, o que é um preço muito alto. O problema acentua-se quando as estruturas metálicas estão expostas a ambientes agressivos, como acontece no mar.
Em Portugal assiste-se a um interesse crescente pela economia azul e o seu de-senvolvimento sustentável. As tecnologias ligadas ao mar e, em particular, as infraestruturas de produção de energia no mar estão a tornar-se um grande desígnio nacional, com implicações muito fortes no crescimento económico. No entanto, a elevada agressividade do meio marítimo e o facto de as estruturas metálicas sofrerem os efeitos nefastos da corrosão de forma muito acelerada têm levado os investigadores nacionais a desenvolver novas estratégias para minimizar estes efeitos.
É sabido que um dos mecanismos mais eficientes para proteger as estruturas metálicas expostas à ação agressiva do mar consiste na aplicação de uma camada protetora de tinta. Mas também é sabido que as tintas não conseguem proteger totalmente o metal e que o aparecimento de defeitos na camada de pintura leva a que a mesma se degrade muito rapidamente. Na prática, isso traduz-se pela necessidade de manutenção regular, que se traduz em pinturas periódicas de modo a garantir a proteção das estruturas. Mas o engenho científico é imparável e nos últimos anos tem-se assistido ao desenvolvimento de estratégias que visam desenvolver tintas mais duráveis e inteligentes e introduzir nas tintas a chamada capacidade de autorreparação, isto é, a capacidade da tinta de se autorregenerar quando é danificada ou de reparar eventuais locais em corrosão. Estas tintas “inteligentes” de capacidade autorreparadora são consideradas como uma das mais promissoras soluções para a prevenção e controlo da corrosão em estruturas offshore e, em particular, em sistemas de produção de energia no mar, e possuem já um forte impacto económico na indústria dos revestimentos.
A equipa de investigação do Instituto Superior Técnico por mim liderada tem estado na linha da frente no desenvolvimento desta nova tipologia de revestimentos, mais inteligentes e autorreparadores. Os desenvolvimentos científicos conseguidos por esta equipa são hoje reconhecidos internacionalmente, quer pelos pares académicos quer pela própria indústria. Este reconhecimento tem levado ao desenvolvimento de vários projetos de investigação em colaboração com a indústria com o intuito de desenvolver e testar estas novas tintas inteligentes. O exemplo mais recente envolve a multinacional Shell e visa desenvolver novos revestimentos inteligentes para tubagens utilizadas em plataformas de exploração offshore.
As novas tintas inteligentes de capacidade autorreparadora são uma realidade que pode revolucionar a durabilidade de estruturas em meio marítimo, diminuindo substancialmente os custos de operação e manutenção destas estruturas. Esse decréscimo tem, obviamente, um grande impacto nos custos globais das infraestruturas e, no caso dos sistemas de produção de energia, no custo final da mesma.
Para além disso, estas tintas inteligentes de capacidade autorreparadora permitirão prevenir e controlar de forma muito eficaz os problemas de corrosão. Considerando que uma boa estratégia de prevenção da corrosão pode implicar uma redução de mais de 30% nos custos associados à corrosão, isto traduz-se numa forte poupança que pode ter um impacto de mais de 1% no PIB. Estas novas tintas posicionam-se, assim, como uma solução que pode ajudar significativamente a recuperação da economia portuguesa e o reforço da economia azul e do seu crescimento sustentável. Mais uma vez, os grandes desenvolvimentos científicos gerados pela grande escola de engenharia que é o Instituto Superior Técnico estão ao serviço da sociedade e do crescimento económico nacional e internacional.
Vice-presidente para os Assuntos Académicos. Investigadora do Centro de Química Estrutural Instituto Superior Técnico