Hoje celebra-se o Dia de São Valentim, um dia que nunca poderia ser celebrado há muitas civilizações atrás, segundo um estudo publicado nos últimos meses pelo jornal “Frontiers in Psychology”. Tudo porque foram encontradas provas de que o homem teve de evoluir para se conseguir apaixonar. Os investigadores analisaram um povo de Hadza, na Tanzânia, por ser idêntico aos antepassados pré-históricos, ajudando assim a fornecer informações acerca da evolução do amor. O estudo sugere que o amor influencia a quantidade de filhos do casal. “Descobrimos que o compromisso e o sucesso reprodutivo estavam positivamente e consistentemente relacionados a ambos os sexos quando as pessoas estavam apaixonadas”, explicaram os investigadores ao jornal britânico “The Independent”. Os cientistas afirmaram também que a paixão e o compromisso aumentam a possibilidade de reprodução, significando que a escolha de ficar com quem se gosta é resultado da evolução humana.
Amor à primeira vista: mito ou realidade? Nos filmes de Hollywood e da Disney as pessoas conhecem-se, apaixonam-se e passam o resto das suas vidas juntos. Na vida real, como sabemos, isso não é bem assim. Um estudo sobre o amor à primeira vista, publicado no “Personal Relationships” em 2017, concluiu que o pensamento de que alguém que se apaixonou no primeiro instante não tem realmente a ver com amor, mas sim com a atração física. Os investigadores explicaram que o chamado amor à primeira vista não tem nada a ver com paixão ou com amor, mas sim com “uma forte atração inicial que muitos chamam de ‘amor à primeira vista’”.
O Amor faz bem à saúde? Vários são os estudos que comprovam que o amor ou estar apaixonado traz benefícios para a saúde: pode ajudar-nos a viver mais tempo, a curar a dor mais rápido, a manter a nossa pressão arterial mais baixa e a reforçar o nosso sistema imunitário. Pode ajudar-nos a ser mais saudáveis e ativos e mesmo a sentirmos menos dor.
Prova disso é um estudo da Universidade de Utah, que concluiu que estarmos numa relação amorosa positiva nos dá anos de vida: o stress é reduzido e adotamos hábitos mais saudáveis. Os níveis de ansiedade também reduzem, deixando a nossa pressão arterial mais baixa. O mesmo estudo revelou ainda que o amor faz bem ao coração porque quando nos preocupamos com a pessoa de quem gostamos o nosso coração bombeia mais sangue. Este sentimento amoroso faz com que o cérebro liberte dopamina, adrenalina e norepinefrina, provocando batimentos mais rápidos e fortes, fortalecendo o músculo.
Outro estudo, esse já mais antigo, de 2010, comprovava que estarmos numa relação nos ajuda a sentir menos dor, algo que foi reforçado com as conclusões de um outro estudo, publicado no ano passado na revista científica “Scientific Reports”. Este último comprovou que a dor pode ser atenuada com o amor. Os investigadores descobriram que quando o casal está próximo, os batimentos cardíacos, quer do homem quer da mulher, estão sincronizados. Quando um deles era submetido à dor e não tinha o toque do seu parceiro essa sincronia era afetada, no entanto, quando davam as mãos a sincronia de batimentos voltava, diminuindo, consequentemente, o sentimento de dor. Um dos cientistas explicou que ainda é necessário aprofundar mais esse assunto, mas que esta descoberta poderá permitir analisar mais a fundo o facto de o toque poder funcionar como uma empatia entre o casal que tem um efeito analgésico.
O lado negro do amor Nem tudo é um mar de rosas, se por um lado o amor tem muitos benefícios, também tem o seus pontos negativos.
Um estudo da American Heart Association concluiu que quando sofremos um desgosto amoroso ou perdemos um ente querido, para além de afetar o nosso bem-estar, o nosso coração também fica danificado: é o chamado síndrome do ‘coração partido’ ou miocardiopatia Takotsubo. Os sintomas são semelhantes a um ataque cardíaco – dores no peito e falta de ar – mas sem a obstrução da artéria. A boa notícia é que esta condição tem tratamento e a maior parte das pessoas que passa por isto recupera em poucas semanas.
Sermos traídos também tem consequências negativas para a nossa saúde, tanto a nível físico como mental. Um estudo recente da Universidade de Nevada descobriu que a saúde mental pode ser afetada pela infidelidade: as pessoas traídas geralmente têm sentimentos de auto culpa, raiva, desconfiança e pode ainda aumentar os comportamentos de risco (consumo de álcool ou drogas).
O amor é como tudo o resto, um equilíbrio entre um prato de coisas boas e outras más. É isso que nos mostram outros dois estudos: Um, publicado pelo “Journal of the American Heart Association”, revela que os pacientes que têm algum tipo de doença cardíaca e que são casados têm menor risco de morrer do que os pacientes solteiros ou divorciados; Outro, publicado no ano passado no “Social Forbes”, assegura que a saúde das pessoas casadas diminui com o passar do tempo. Os investigadores afirmaram ainda que a saúde dos participantes do estudo melhorou significativamente depois de estes se divorciarem.
Por isso, se está a ler isto e não tem com quem partilhar este dia, não se preocupe: o amor também tem um lado negro.
Leandra Cordeiro, psicóloga e professora universitária
O amor pode mesmo trazer benefícios para a nossa saúde? Se sim, quais?
Acho que só quem ainda não esteve apaixonado é que dirá o contrário. A paixão será sempre aquele estado de graça onde se comungam interesses, defeitos e olhos. Amamos com o cérebro e não com o coração, convém lembrar. Não se trata apenas de um fenómeno psicológico, é fisiológico também! A pupila dilata, o coração bate mais rápido. Apaixonamo-nos quando a par com as descargas físico-químicas e com a procura filogenética, o outro se encontra com a nossa história. Nos dá um futuro. Quando é que podemos dizer que isto é contraproducente? Ter futuro é aquilo que nos mantém longe da depressão.
Como é que podemos ajudar essas pessoas?
A rejeição e o abandono serão sempre das situações mais difíceis de viver. A forma como as pessoas ultrapassam um momento menos bom está diretamente relacionado (sempre) com a sua estrutura mental e a qualidade da sua rede afetiva (leia-se, outros vínculos significativos, os primeiros e aqueles que foi construindo ao longo da sua vida). Num processo psicoterapêutico, é vital resgatar os recursos saudáveis da pessoa e essa mesma rede num movimento funcional importante e depois, numa leitura mais fina, perceber se há padrões relacionais disfuncionais que por vezes, perpetuam as pessoas em ciclos de relações completamente patológicos.
Sofrer uma separação amorosa nunca é bom, mas a ideia de coração partido pode mesmo deixar-nos doentes? Ou é psicológico?
Pelo meu consultório entram invariavelmente dores. E as dores nunca são solteiras, mas podem enviuvar o coração e a emoção. As dores resultam de histórias mais sofridas. De percursos desamparados. Aquilo que envolve um pedido de ajuda não tem que necessariamente representar problema. Pode simplesmente significar crescimento. Mas não há heróis. Todos nós temos as nossas dores, as nossas dificuldades. Não queria dizer que a felicidade mora longe de um consultório de psicologia porque é mentira, mas é um facto, que moram mais perto as dores e as vivências mais difíceis. Morre-se por amor. Há quem pense que não, mas sim! Morre-se todos os dias um bocadinho. Morre-se dos pequenos ‘nãos’ e dos meios ‘sins’, dos ‘entretantos’ demorados e indefinidos. Morre-se da angústia e da melancolia. Da expectativa não cumprida, e da deceção silenciada. Morre-se do desamor e da rejeição. Morre-se do desamparo e da desesperança. Morre-se nas prioridades trocadas. Adoece-se nas horas que passam depressa demais, das que fazem com que o dia não chegue ao fim. E morre-se na solidão da noite e do silêncio ensurdecedor. Isto para dizer que o adoecer psicossomático da dor psicológica está hoje mais que comprovada, nas mais diversas formas e situações.