A vingança serve-se fria


A vitória na Taça da Liga foi importantíssima para o Sporting. Não por ser o primeiro troféu da época. Nem por ser a primeira Taça da Liga que o Sporting ganha. Mas porque, se a perdesse, o Sporting ficava em muito maus lençóis. É preciso dizer que o empate em Setúbal para o campeonato foi…


A vitória na Taça da Liga foi importantíssima para o Sporting. Não por ser o primeiro troféu da época. Nem por ser a primeira Taça da Liga que o Sporting ganha. Mas porque, se a perdesse, o Sporting ficava em muito maus lençóis.

É preciso dizer que o empate em Setúbal para o campeonato foi um resultado devastador. Os murros de Coentrão na cobertura do banco de suplentes espelharam bem o desespero leonino. Numa altura em que o Sporting podia passar para a frente do campeonato e fixar-se lá por várias semanas, a equipa teve o pássaro na mão e deixou-o fugir. Estupidamente e quando já nada o fazia prever.

O empate em Setúbal foi um murro no estômago. E, para muitos sportinguistas, o sinal de um adeus ao título. Se, com tudo a seu favor, o Sporting não tinha conseguido segurar a vitória contra o penúltimo classificado, como podia pensar em ser campeão?

Depois deste descalabro, uma derrota contra o FC Porto na meia-final da Taça da Liga aprofundaria ainda mais este sentimento depressivo. Ficaria clara a inferioridade leonina – e o Porto teria caminho aberto para o título. Assim, o empate contra os dragões foi uma boia de salvação para uma equipa quase à deriva. De repente, os sportinguistas pensaram: “Afinal, conseguimos resistir ao Porto. Não somos piores do que eles.” E a vitória nos penáltis até transmitiu a ideia de uma ilusória superioridade.

E veio a final Se a eliminação do Porto tinha sido muito importante, uma derrota contra o Setúbal apagaria esse efeito. Seria um novo balde de água gelada. Ainda por cima, atirado pela mesma equipa que lançara os sportinguistas na depressão.

E a derrota esteve quase a acontecer. O Sporting é uma equipa muito desequilibrada e Jorge Jesus parece um pouco desnorteado. As entradas de Rúben Ribeiro e Montero e o regresso de Bryan Ruiz vieram lançar a confusão no plantel. Tão depressa o Sporting se mostra uma equipa madura e estabilizada como transmite uma sensação de caos.

Por tudo isto, a vitória na Taça da Liga foi importantíssima. Foi um tónico numa altura decisiva da época, em que o Sporting tremia todo. E até o facto de vencer nos penáltis, se tira algum brilho às vitórias, foi psicologicamente relevante. No ponto em que a equipa se encontrava, dir-se-ia que estava mentalmente fraca. Se tivesse perdido nos penáltis, essa fraqueza “provar-se-ia”. Mais uma vez, falharia nos momentos decisivos. Tendo ganho, a equipa sai fortalecida. Com mais um título mas, sobretudo, mentalmente mais forte e mais confiante.

Acresce que o triunfo sobre o Setúbal cheirou a vingança. Vingança do empate para o campeonato e da derrota de há dez anos. Neste caso, a vingança serviu-se fria.