1. Traumatizado pela circunstância de não ter conseguido formar governo, pelo êxito político da constituição da geringonça e pelo desempenho positivo da economia portuguesa, Pedro Passos Coelho nunca foi capaz de fazer uma oposição firme e credível ao PS e aos seus aliados, o que contribuiu para um resultado negativo nas autárquicas e levou à sua saída.
Como base de discurso oposicionista, o anterior líder tinha o chavão de que vinham aí tempos difíceis, o que, para já, não sucedeu, apesar do desempenho (positivo) da nossa economia ser fraco quando comparado com os outros países da União Europeia.
Dada esta circunstância, e mau grado os esforços de Montenegro no parlamento, o PSD esteve, na prática, dois anos sem fazer uma oposição sistemática e baseada em alternativas, o que o desvalorizou consideravelmente junto da opinião pública.
Com a vitória de Rui Rio sobre Santana, os sociais-democratas mostraram que para enfrentar Costa querem uma alternativa global com diversas soluções e não apenas uma postura dogmática, assente em sistemáticos chavões do tipo tudo ou nada.
Talvez não fosse isso que Santana faria se tivesse ganho, mas a verdade é que, ao colar-se a Passos e à sua máquina, foi a imagem que passou cá para fora e que os militantes não sancionaram porque, no seu pragmatismo coletivo, deduziram que essa não seria a melhor via para terem poder novamente.
Com o passar do tempo e a superação de episódios pontuais como o da liderança do grupo parlamentar, em que só faz sentido o respetivo líder colocar o lugar à disposição, Rui Rio terá de ganhar espaço interno, reunificar o que for possível, mas sobretudo apresentar um programa alternativo e credível, agora, aos olhos do país, prevendo crescimento e não novos sacrifícios e tragédias. Para desgraças já basta o que passámos e o que voltaremos a passar se não acabarem certos desmandos.
O tempo é propício a uma oposição racional e construtiva. Isto porque António Costa já deu tudo o que podia em termos de reposições e já fez todas as cedências de bom senso que qualquer primeiro-ministro, mesmo do PSD, deveria ter feito, perante a recuperação económica.
Doravante, as exigências do Bloco e do PCP são, salvo casos muito pontuais, reivindicações destinadas a satisfazer única e exclusivamente as suas clientelas eleitorais, já nada tendo de patriótico e de justiça.
É por isso que as circunstâncias em termos de timing, embora apertadas, são propícias a Rio e ao seu perfil e difíceis para António Costa, cujo governo tem multiplicado erros políticos por falta de uma coordenação que um atarefadíssimo e cansado primeiro-ministro não consegue assegurar.
Rui Rio não pode perder tempo, tem de exercer a oposição desde já e, simultaneamente, reorganizar o PSD face ao congresso, o que pressupõe uma tarefa metódica e gigantesca. Mas é exatamente isso que ele se propôs fazer e por isso também que acabou por ganhar, representando uma linha diferenciadora. Aliás, os resultados da votação foram claros e inequívocos e Rio impôs-se com a percentagem prevista. Lisboa era a zona mais difícil, que podia dar a Santana um empurrão decisivo, mas apesar de ter ganho, as tropas locais afetas a Rio aguentaram o embate e foi até por pouco que não ganharam a concelhia de Lisboa.
Como é normal no PSD, o mandato de Rio é de dois anos, o que faz com que tenha um horizonte temporal limitado. Coincidentemente, está balizado por obstáculos difíceis. Além das surpresas da política diária, onde um erro pode ser fatal, há três eleições à vista em 2019: regionais, europeias e legislativas. Se nas primeiras a sua responsabilidade é relativa, nas outras é a sua sobrevivência e credibilidade política que também serão julgadas. E já se percebeu que, no estado em que o PSD se encontra, tudo o que não for ganhar, ter mais votos e mais assentos será considerado uma derrota que, inevitavelmente, despertará novas alternativas àquela que Rio corporiza a partir de agora.
Por isso, pelo seu próprio feitio combativo e pela natureza dos argumentos económicos e sociais inovadores que terá de trazer para a política, Rui Rio é a fava que saiu a Costa, embora haja que reconhecer que o atual primeiro ministro, o PS e a geringonça têm, para já, uma confortável margem de segurança.
2. Conforme previsto neste espaço, o lóbi das cartas de condução vai mesmo fazer passar o regresso à necessidade de aulas para quem quiser guiar motos até 125 de cilindrada. Um dos argumentos é que aumentou o número de mortes com veículos motorizados de duas rodas. É verdade, mas as causas estão fundamentalmente na sua multiplicação exponencial. O ministro Cabrita foi ensopado nos argumentos e já apoiou a manobra publicamente, ficando por explicar como é que se faz com quem já conduz as motos. Será por este tipo de situações que Seguro falava de um PS dos negócios? No que Cabrita revelou sobre duas rodas só faz sentido a obrigatoriedade de inspeções regulares.
Jornalista