Mergulhada num impasse político inédito na sua história do pós-guerra, fruto dos resultados pouco esclarecedores das eleições federais de setembro e do falhanço das negociações entre a União Democrata Cristã (CDU na sigla em alemão), a União Social-Cristã (CSU), os Verdes e o Partido Liberal Democrata (FDP), a Alemanha entrou numa nova fase de resgate da estabilidade que tão bem apregoa.
O líder do Partido Social-Democrata (SPD) recebeu ontem Angela Merkel na sua sede, inaugurando assim aquilo a que os alemães chamam conversas “exploratórias” com vista à formação de um novo governo de bloco central.
Os partidos que a compõem e que lideraram o país entre 2013 e 2017 são os mesmos, mas a “grande coligação” que Merkel e Schulz procuram agora restaurar, está longe de refletir a magnitude que aquela nomenclatura sugere. A perda de votos em setembro custou à CDU a perda da maioria absoluta e o consequente crescimento da extrema-direita, e ao SPD a humilhante façanha de ter conseguido o pior resultado eleitoral da sua existência.
Para além disso, os seus líderes continuam a afundar-se nas sondagens. A chanceler está a ser castigada pelo fracasso da chamada “solução Jamaica”, com FDP e Verdes, e por ainda não ter encontrado uma solução rápida para a Alemanha, e o antigo presidente do Parlamento Europeu por ter sido obrigado a mudar de estratégia, depois de ter jurado a pés juntos que os sociais-democratas iriam ficar-se pela oposição no Bundestag.
À chegada à sede do SPD, no domingo, a mulher que lidera a chancelaria alemã desde 2005 mostrou-se, no entanto, otimista e confiante na renovação da coligação. “Acho que é possível [chegar a um acordo de governo]. Chego para estas conversas com otimismo. Ao mesmo tempo, parece-me óbvio que vamos ter imenso trabalho pela frente durante os próximos dias, mas estamos dispostos a encará-lo e a conseguir um bom resultado”, afiançou Merkel, citada pelo “Guardian”.
Para já, sabe-se que a chanceler não parece disposta a aceitar um cenário (inédito) de governo minoritário, por si liderado, sustentado por alguns acordos específicos com o SPD, e suspeita-se que os sociais- -democratas estarão a piscar o olho ao apetrechado ministério das Finanças alemão.
De acordo com a imprensa local, esta ronda de conversas deverá arrastar-se durante a próxima semana – um eventual acordo final para a formação de um governo só deverá acontecer em meados de fevereiro – e os temas em debate não andarão muito longe daqueles que mais divergências suscitam entre CDU e SPD: imigração, impostos, saúde, infraestruturas e União Europeia.
A política de abertura de fronteiras aos refugiados em 2015 dificilmente será apresentada por Angela Merkel nos mesmos moldes, tendo em conta as pressões da CSU, partido- -irmão da Baviera, que concorrerá nas eleições regionais do próximo outono e defende cortes nos subsídios aos refugiados e requisitos mais apertados na concessão de asilo. Nesse sentido, adivinha-se uma negociação difícil com o SPD.
Quanto à questão europeia, é difícil prever qual a posição da chanceler em relação à pretensão de Schulz de transformar a organização comunitária numa entidade de natureza federal, até 2025, denominada “Estados Unidos da Europa”.