1) Independentemente de quem ganhar a corrida à liderança do PSD ou PPD/PSD, a verdade é que o tempo que medeia entre a não recandidatura de Passos e o congresso que porá termo à transição e fará a reconstituição dos órgãos do partido é uma eternidade que prejudica a democracia, na medida em que afeta o maior partido da oposição que, por sinal, até é o maior do país.
Este tipo de calendários arrastados é próprio de outros tempos, de outras práticas e de outros meios de decisão, não fazendo sentido nenhum nos dias de hoje, em que as realidades efetiva e virtual tudo mudam e alteram num segundo.
Num tempo em que Trump tweeta umas tretas perigosas e põe o mundo em ebulição em segundos, quase desencadeando conflitos armados, que sentido faz um partido em Portugal levar sensivelmente três meses para mudar de líder? Mais caricata se torna a situação quando se verifica que, enquanto o problema não é resolvido, o partido passou a ser tricéfalo, com os jornalistas a ouvirem o líder de saída e os dois candidatos sobre as questões nacionais.
O problema não é evidentemente exclusivo do PSD e, na realidade, passa-se mais ou menos assim em todos os partidos políticos. E passa-se também quando se trata de prazos para convocar eleições legislativas, que levam sensivelmente três meses a preparar. Tudo por cá é lento e corresponde a um ritmo – isto em termos de calendário político formal, não podendo achar-se o mesmo dos processos negociais a que, por exemplo, obriga a formação de um governo, o que pode durar razoavelmente bastante tempo. A geringonça levou mais de 50 dias a nascer. Na Alemanha passa-se o mesmo na negociação, mas não no calendário eleitoral.
A classe política portuguesa no seu todo deverá olhar para esta situação geral e procurar resolvê-la de forma que não se criem entraves ao regular funcionamento do país por via do irregular funcionamento do timing da escolha das instituições.
Há dias, Rui Rio afirmava que Portugal necessita de um novo 25 de Abril, mas civil. Tem razão. E pode começar por propor novos estatutos e prazos no seu partido e depois arranjar um programa e um conjunto de acordos com todos os partidos que podem muito bem assentar praticamente num ponto fulcral: diminuir o tempo que as coisas levam entre nós. O tempo para ter uma consulta de especialidade num hospital ou num centro de saúde, o tempo que leva um processo na justiça (o que ajuda culpados e destrói inocentes), o tempo que as Finanças levam a retificar um erro, o tempo que leva a Segurança Social a dar uma resposta, o tempo que as autarquias levam a mexer-se, o tempo que leva a ASAE a responder a uma queixa, o tempo que levam os bombeiros a chegar aos incêndios, o tempo que levam os polícias a acorrer ao local de um crime, o tempo que se espera por uma ambulância do INEM, o tempo que se espera para conseguir falar com alguém e não com uma máquina, o tempo que levam os transportes públicos – enfim, o tempo que cada um de nós, portugueses, tem de espera ao longo da vida e que, se houver uma estatística na OCDE, deve ser certamente dos maiores que há.
Independentemente do partido que o assumisse, um programa político baseado na economia no gasto de tempo só poderia ser um sucesso entre nós. Até porque, como reconhece a sabedoria popular, tempo é dinheiro e há que o economizar, mesmo que seja para depois poder preguiçar à vontade. O tempo que gastamos custa-nos milhões e torna muitas vidas um inferno.
2) Mário Centeno foi eleito presidente do Eurogrupo. Foi merecido. O ministro das Finanças apresenta nesta altura resultados muito bons em Portugal, esperando-se que não venha o diabo tecê-las e estragar a caminhada feita até aqui. Doravante, Centeno fica na difícil situação de ser simultaneamente Olívia patroa e Olívia empregada. Tem de ser exigente, como querem os ricos, e conseguir alguma tolerância para os devedores. Não vai ser fácil, mas depois do que já fez cá dentro não parece ser-lhe impossível construir pontes entre estas partes. A esta eleição não é alheia a máquina da Internacional Socialista e uma conjugação política circunstancialmente favorável. Mas há que reconhecer que a criatura tem grande mérito próprio.
3) Num tempo em que a memória do que foram os anos do Estado Novo se torna rara, foi gratificante verificar que o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, condecorou com a Ordem da Liberdade o advogado José Augusto Rocha, agora com 79 anos. José Augusto Rocha foi um incansável defensor de presos políticos antes do 25 de Abril e dedicou toda a sua vida à defesa dos direitos fundamentais – um exemplo que não podia passar ser sem reconhecido, como infelizmente tem sucedido. Desta vez, não foi o caso. Ainda bem. A democracia tem sempre de dar valor aos que a defenderam, designadamente ajudando os perseguidos, pagando muitas vezes por isso seja com cadeia, com exílio, com sacrifícios ou com perseguições quotidianas.
Jornalista