Culpas e desculpas

Culpas e desculpas


Quanto a responsabilidades e distribuição de culpas, parece-me que ficamos como sempre: ou são do governo anterior – que, por sua vez, as atribuía ao anterior, e assim sucessivamente – ou conservam o celibato e, por isso, vão morrer solteiras


Os incêndios de verão causaram mais de cem mortos!

“Se quer que eu peça desculpas, eu peço desculpas.”

Um surto de legionela num hospital público causa cinco mortes e infeta mais de 50 doentes!

“O governo acompanha a posição de que os utentes são credores de um pedido de desculpa do hospital, das empresas que tinham obrigação de fazer vigilância, da Administração Regional de Saúde e de mim próprio.”

O jantar de encerramento da Web Summit realizou-se no Panteão Nacional!

“É absolutamente indigna do respeito devido à memória dos que aí honramos. Apesar de enquadrado legalmente, através de despacho proferido pelo anterior governo…”

Estas palavras, proferidas pelo chefe do governo, António Costa, defendiam o respeito pela memória. Infelizmente, a memória do próprio atraiçoou-o. Um evento semelhante, organizado pela Associação de Turismo de Lisboa, ocorreu em 2013, quando António Costa era presidente da câmara da capital.

Enumero três casos recentes, com graus de gravidade muito diferentes, mas que mereceram e ainda merecem páginas e páginas de jornais, muito tempo de televisão e rádio, e “incendiaram” as redes sociais.

Falo deles para me centrar no tema da responsabilidade política, ou da falta dela.

Da tragédia dos incêndios resultou uma limpeza na área da administração interna.

Do caso da legionela num hospital, aguardamos por inquéritos.

Do caricato jantar, um entre vários que se realizaram no Panteão nos últimos anos, não aguardamos por nada, ou melhor, ficamos a saber que não haverá mais.

Quanto a responsabilidades e distribuição de culpas, parece-me que ficamos como sempre: ou são do governo anterior – que, por sua vez, as atribuía ao anterior, e assim sucessivamente – ou conservam o celibato e, por isso, vão morrer solteiras.

Somos governados por homens e mulheres (assim é que é politicamente correto) comuns. Não haveria nenhum mal nisso se não confirmasse uma máxima de Confúcio:

“O homem superior atribui a culpa a si próprio; o homem comum atribui-a aos outros.”

 

Jornalista