A Catalunha quer ser independente para quê?


Se os Catalães quiserem ser independentes o que é que tu tens com isso? Ou: como é que sendo Português podes ser contra a indepêndencia da Catalunha? São perguntas que me têm sido feitas quando digo que a Catalunha não deve ser independente. Mas há algum problema em a Catalunha ser independente?


Claro que não. Num mundo ideal, com certeza que não. Sucede que não vivemos num mundo ideal, mas num mundo real, tramado. E num mundo tramado quem mais tem exigido a independência da Catalunha são forças extremistas que, a pretexto de uma causa, pretendem criar uma república na Europa onde possam governar com o mínimo de escrutínio.

Claro que houve um referendo e que nesse referendo o sim à independência venceu por larga maioria. Sucede que numa democracia verdadeira, votar não é apenas colocar uma cruz num quadrado, dobrar a folha e depositá-la numa urna. Existem regras indispensáveis para que o voto de cada pessoa que colocou a cruz num quadrado, dobrou a folha e a depositou numa urna não seja falseado. As regras são precisas para que se garanta que o direito ao voto não tenha sido violado. Ora, foram precisamente essas garantias que não existiram no referendo de 1 de Outubro. Pelo contrário, a forma como o referendo se processou alimentou sérias dúvidas em muitos dos que até então nutriam simpatia com a independência da Catalunha.

E não, nem todos os Catalães querem ser independentes. E mais uma vez não, a Catalunha não é igual a Portugal, tal como a Europa em 2017 é muito diferente da de 1640. Há quase 400 anos a Europa encontrava-se em plena guerra dos 30 anos, uma guerra religiosa entre estados católicos e estados protestantes que acabou por ser uma excelente forma da França afastar a ameaça dos Habsburgos e se tornar na maior potência católica do continente. Para tal, dava jeito que Portugal se afastasse da Espanha, lhe colocasse problemas e lhe dividisse o império. O 1.º de Dezembro não aconteceu apenas porque Miguel de Vasconcelos foi atirado da janela, mas porque o equilíbrio de poder na Europa o permitiu.

Hoje a Europa não está em guerra e resolve as suas questões sentada à mesa em Bruxelas, para onde, ironia das ironias, Puigdemont fugiu. Além disso, a Espanha é um estado democrático, que preza as autonomias e a reacção de Madrid a todos estes episódios foi, no minímo, exemplar: perante o desafio de Puidgmeont pediram-se esclarecimentos;depois da declaração de independência, Madrid deu a vez à voz do povo. Em vez das armas convocaram-se eleições. Perante isto sou eu que pergunto: os Catalães vão querer ser independentes para quê?  

 

Advogado

Escreve à quinta-feira 


A Catalunha quer ser independente para quê?


Se os Catalães quiserem ser independentes o que é que tu tens com isso? Ou: como é que sendo Português podes ser contra a indepêndencia da Catalunha? São perguntas que me têm sido feitas quando digo que a Catalunha não deve ser independente. Mas há algum problema em a Catalunha ser independente?


Claro que não. Num mundo ideal, com certeza que não. Sucede que não vivemos num mundo ideal, mas num mundo real, tramado. E num mundo tramado quem mais tem exigido a independência da Catalunha são forças extremistas que, a pretexto de uma causa, pretendem criar uma república na Europa onde possam governar com o mínimo de escrutínio.

Claro que houve um referendo e que nesse referendo o sim à independência venceu por larga maioria. Sucede que numa democracia verdadeira, votar não é apenas colocar uma cruz num quadrado, dobrar a folha e depositá-la numa urna. Existem regras indispensáveis para que o voto de cada pessoa que colocou a cruz num quadrado, dobrou a folha e a depositou numa urna não seja falseado. As regras são precisas para que se garanta que o direito ao voto não tenha sido violado. Ora, foram precisamente essas garantias que não existiram no referendo de 1 de Outubro. Pelo contrário, a forma como o referendo se processou alimentou sérias dúvidas em muitos dos que até então nutriam simpatia com a independência da Catalunha.

E não, nem todos os Catalães querem ser independentes. E mais uma vez não, a Catalunha não é igual a Portugal, tal como a Europa em 2017 é muito diferente da de 1640. Há quase 400 anos a Europa encontrava-se em plena guerra dos 30 anos, uma guerra religiosa entre estados católicos e estados protestantes que acabou por ser uma excelente forma da França afastar a ameaça dos Habsburgos e se tornar na maior potência católica do continente. Para tal, dava jeito que Portugal se afastasse da Espanha, lhe colocasse problemas e lhe dividisse o império. O 1.º de Dezembro não aconteceu apenas porque Miguel de Vasconcelos foi atirado da janela, mas porque o equilíbrio de poder na Europa o permitiu.

Hoje a Europa não está em guerra e resolve as suas questões sentada à mesa em Bruxelas, para onde, ironia das ironias, Puigdemont fugiu. Além disso, a Espanha é um estado democrático, que preza as autonomias e a reacção de Madrid a todos estes episódios foi, no minímo, exemplar: perante o desafio de Puidgmeont pediram-se esclarecimentos;depois da declaração de independência, Madrid deu a vez à voz do povo. Em vez das armas convocaram-se eleições. Perante isto sou eu que pergunto: os Catalães vão querer ser independentes para quê?  

 

Advogado

Escreve à quinta-feira