Depois do fogo


O desastre pode ser ainda maior se nada se fizer antes das primeiras chuvas de intensidade própria da época. Há muito trabalho por fazer e os recursos existentes não chegam para o levar a cabo.


Não lerão, da minha parte, qualquer ataque a quem decide manifestar-se ou expressar a sua indignação das mais diversas formas perante a devastação e a tragédia que tem vindo a assolar o país, apesar da forma ignóbil como os dirigentes dos partidos de direita se têm tentado aproveitar destas manifestações contra uma desgraça pela qual são, tão ou mais, responsáveis que o actual governo.

O posicionamento político de cada um não pode servir para normalizar ou desvalorizar a indignação perante a tragédia humana tal como a sua exploração partidária deve ser motivo de repúdio em qualquer sociedade decente.

Anseio para que esta discussão se afaste rapidamente dos salões protocolares de Lisboa, em que pululam Conselheiros Acácios com pouca vida além deles, para que se ganhe novos construtores e activistas pelo direito ao território, à floresta, ao ambiente e a viver em paz.

Esta semana, mais uma vez, estive em vários locais da área ardida. O que se passou entre 15 e 16 de Outubro é um desastre de maiores proporções do que o que está a ser descrito. Uma semana passada há aldeias que ainda não foram visitadas pelas autoridades, há construções e árvores em risco de queda, entulhos por limpar, infraestruturas (água, luz e comunicações) por restabelecer e pessoas à espera de ajuda. 48 horas após a passagem do fogo vi gente que ainda usava a roupa com que o tinha combatido, com escoriações por tratar e com medo do futuro. O desastre pode ser ainda maior se nada se fizer antes das primeiras chuvas de intensidade própria da época. Há muito trabalho por fazer e os recursos existentes não chegam para o levar a cabo.

Evitando voluntarismos vãos, tantas vezes vampirizados por quem vive da miséria alheia ou traduzidos em ações pouco mais que inglórias, importa mobilizar e organizar a sociedade civil para reforçar o apoio às vítimas e ao território. Há dias uma amiga perguntava-me como podia ajudar, sendo que disponibilizava uma semana de trabalho para estar no terreno. Não soube o que responder.

Escreve à segunda-feira