A China é, hoje, a maior potência mundial. Podemos contrariar esta afirmação com diversos indicadores e argumentos mas, para mim e indubitavelmente, é o país que já domina e que consolidará o seu domínio da economia mundial nas próximas décadas.
Ontem começou o 19.o Congresso do Partido Comunista da China (PCC). Hoje, mais do que nunca, o resultado do congresso do PCC deve interessar-nos e devemos segui-lo atentamente. Porventura mais do que as eleições americanas – as orientações políticas e a mensagem que sair deste 19.o conclave terão muito mais impacto na nossa vida do que qualquer outro acontecimento político mundial. Criado em 1921, o PCC foi-se ajustando às diferentes tendências mundiais e, hoje, funciona de forma corporativa, em forma de conselho de administração, orientado para os resultados e liderado por um verdadeiro chief executive officer (CEO).
A sua evolução não deixa de ser curiosa e nem sempre quem dirigia os destinos do país era o presidente. O exercício do real poder foi oscilando entre presidente, secretário-geral do partido ou líder do comité permanente. Mas o que mais impressiona é a sua evolução e adaptação às mutações do sistema internacional, e para tal contribuíram algumas figuras marcantes e decisivas para a China ser hoje o que é.
O PCC assume as rédeas do poder da China em 1949 pelas mãos de Mao Tsé-Tung, num ambiente conturbado, intenso e sangrento, próprio de momentos revolucionários. Líder incontestado e determinado, solidificou o comunismo ortodoxo, optando por uma terceira via e passando entre os pingos da chuva da Guerra Fria.
A segunda figura foi Deng Xiaoping, o criador do socialismo de mercado, que alinhou o gigante chinês com o crescimento económico. Foi o responsável pela abertura económica e diplomática – foi o primeiro líder chinês a visitar os EUA. Xiaoping realizou com sucesso o que, na União Soviética, Gorbachev e a sua glasnost e perestroika não conseguiram: reformar um sistema que perdia espaço para o capitalismo, sem abdicar do poder de decisão centralizado. Iniciou as reformas bottom-up: do município e da província para, depois de testadas, serem implementadas a nível central.
O senhor que se seguiu, Jiang Zemin, teve sobretudo de gerir a conturbação interna resultante do crescimento desenfreado da década de 80 e a ânsia de um povo que reclamava abertura e flexibilização do regime. Por vezes desvalorizado, Xiaoping, no meu entender, foi fundamental para o sucesso do projeto chinês e determinante para o futuro da RPC: manteve as reformas de Xiaoping, juntando-lhes uma visão expansionista, e apaziguou um país à beira de uma revolução.
E chegamos por fim a Xi Jinping – o CEO da RPC. Consolidou em si um poder quase absoluto num país que, embora comunista, funciona como um verdadeiro conselho de administração de uma multinacional. Focou-se na luta contra a corrupção que se intensificou após a abertura do país de Xiaoping e varreu todo o espetro dirigente chinês. Foram milhões de investigações e milhares de acusações –uma campanha vista por muitos como forma de eliminar opositores e perpetuar a sua liderança. É possível, mas a China volta a apresentar indicadores económicos impressionantes e afirmou-se em todos os setores de atividade. Banca, petróleos e gás, seguros ou tecnológicas, a China criou gigantes.
Aos poucos, a RPC foi estendendo a sua influência e o seu poder por todo o mundo. Hoje tem presença em todos os continentes, em áreas-chave da economia, assegurando participações nas principais utilities, mas também uma forte presença nos principais fornecedores e produtores de commodities.
Com uma postura corporativa mas totalmente politizada, a RPC controla hoje grande parte dos ativos mundiais, seja financeiramente, seja através dos compromissos políticos que foi assegurando nos países em vias de desenvolvimento que o Ocidente simplesmente marginalizou.
Enquanto o Ocidente andou entretido com a disputa do petróleo do Médio Oriente, a China garantiu a sua presença no mundo. Por isto e muito mais, é fundamental perceber o que Xi Jinping, o CEO da China, se propõe fazer nos próximos anos.