Duas previsões são (quase) tão certas como a morte e os impostos: Angela Merkel ganha as eleições, o SPD fica em segundo lugar. Antes de bocejar, fique a saber que muita coisa está em jogo na disputa pelo bronze nas legislativas alemãs.
Só uma catástrofe política maior travaria o quarto mandato da chanceler Angela Merkel e que o seu parceiro de coligação governamental o SPD se sagre como segunda força mais votada. Os diversos institutos de sondagens são unânimes nesta previsão.
Vistas à distância, as eleições de domingo na Alemanha parecem monótonas. Longe disso. Este sufrágio é o mais concorrido de sempre – participam 42 partidos, em 2013 eram 34 – como se espera uma elevada afluência às urnas. A somar a isto a disputa pelo terceiro lugar, além do valor simbólico, poderá determinar o rumo político do país.
Vejamos. Se houver uma reedição da “Grande Coligação” entre os democratas-cristãos da CDU/CSU, de Merkel, e os sociais-democratas do SPD, o partido que conquistar o terceiro lugar liderará a oposição no Bundestag. Neste momento todas as sondagens indicam que esse partido poderá ser a formação populista e eurocética Alternativa para a Alemanha (AfD).
Liderar a oposição não tem um valor meramente protocolar. Nos debates parlamentares o líder da oposição tem o direito de tomar a palavra logo após a chanceler – imagine-se a Alemanha ter uma formação política xenófoba e que glorifica os “feitos” do nazismo a responder de imediato à chanceler –, e uma regra não escrita da política alemã faz com que a terceira força parlamentar assuma a presidência da comissão parlamentar do Orçamento de Estado.
Além disso, como salienta o jornalista Alexandre Schossler, “a força de um partido determina não só quantos deputados ele vai ter no Bundestag, mas também quantos presidentes e membros terá nas comissões parlamentares, quantos funcionários poderá empregar e o tempo de intervenção de seus deputados nos debates parlamentares”. No caso de democratas-cristãos e sociais-democratas não chegarem a acordo para a formação de governo – recorde-se a chamada “maldição de Merkel”, quem com ela governa está eleitoralmente condenado pois a chanceler tem conseguido chamar a si os sucessos do executivo, como aconteceu com o SPD em 2009 e com o FDP em 2013, que tiveram péssimos resultados – a CDU/CSU, como maior bancada parlamentar, terá que se sentar à mesa com os partidos mais pequenos para encontrar uma solução governativa. Para os conservadores, os únicos partidos pequenos que entram nesta equação são os liberais do FDP e os Verdes.
Para o politólogo Oskar Niedermayer, “se não houver Grande Coligação é extremamente importante quem dos dois – FDP ou Verdes – esteja à frente”.
Ecologistas e FDP já entenderam há muito a importância do “bronze. “O nosso objectivo é o terceiro lugar”, frisa Christian Lindner, presidente dos liberais . E o verde Cem Özdemir é bem claro: “O terceiro lugar decide para onde o país vai”.
Todos estes ingredientes têm tornado, para quem acompanha de perto, a campanha eleitoral alemã numa disputa bem emotiva. Todavia, como na célebre máxima futebolística (“futebol são onze contra onze e no fim…) aqui também o final é expectável: uma Grande Coligação. “Por vezes, fora da Alemanha, não se tem noção de que o nosso sistema é muito orientado para consensos”, sublinha o politólogo Richard Hilmer. Um desejo de unidade que aumenta ainda mais em tempos conturbados. “Por isso, também, é que a grande coligação tem tanto sucesso.” Esta consensualidade e maturidade democrática tem sido e será o travão a extremismos.
Escreve à segunda-feira