Sejamos sinceros: como portugueses e como europeus, a eventual independência da Catalunha dificilmente seria benéfica para nós. Como portugueses, provavelmente passaríamos a ser o terceiro país mais importante da península Ibérica e, como europeus, assistiríamos a uma inevitável desagregação do restante território espanhol, com destaque óbvio para o País Basco.
Como se isto não bastasse, pensando enquanto europeus, iriam abrir-se portas ao reacendimento da discussão de várias pretensões independentistas, como a de uma Escócia revoltada pelo Brexit, a de uma Bélgica dividida e até de uma Itália onde, ao contrário do que se pensa, existem vários movimentos que defendem a independência de diversas regiões.
No entanto, achar que algo não será benéfico para nós é bem diferente de não reconhecer que um povo tem direito a optar livremente pela autodeterminação. Aliás, é com estupefação que tenho olhado para a forma como os nossos vizinhos espanhóis têm conduzido este processo.
Lá porque existe uma norma constitucional que impede a desagregação do Estado espanhol e, consequentemente, qualquer tipo de pretensão a um referendo autonómico, não quer dizer que essa norma seja justa e que isso revista o poder político de Madrid de uma legitimidade democrática para reprimir as justas pretensões da Generalitat da Catalunha de realizar um referendo.
Será que Madrid ainda não percebeu que sempre que ativa mecanismos legais com vista a travar um referendo, sempre que ameaça enviar polícias para a Catalunha, sempre que congela fundos financeiros, sempre que apreende boletins de voto (isto é grave!) e impressoras, sempre que faz presos políticos, está pura e simplesmente a colocar o povo catalão (mesmo aquele que até há pouco tempo queria permanecer em Espanha) a favor da independência?
Mas pior do que a forma como os espanhóis estão a lidar com este problema é o triste espetáculo que os dirigentes europeus têm dado à democracia. Seria mesmo necessário Juncker vir ameaçar os catalães com a expulsão da União Europeia? Terá o presidente da Comissão Europeia esquecido que os escoceses foram expulsos da UE precisamente por terem votado não à independência?
Não seria muito mais fácil Espanha pura e simplesmente permitir que os catalães decidissem livremente o seu futuro? Não faria muito mais sentido haver um debate democrático sério entre as duas partes? É mesmo necessário criarmos mais um barril de pólvora na Europa? Espero que venha a existir bom senso, algo que não tenho visto até agora em Mariano Rajoy.
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