A notícia da compra da casa de Fernando Medina, que é presidente da Câmara de Lisboa, a uma familiar do CEO da Teixeira Duarte seria notícia em todo o mundo livre. É preciso estar cego pela amizade ou solidariedade partidária para declarar que no caso dos “dois bons negócios” de Medina, como escreveu o “Público”, não existe notícia.
É evidente que a democracia, por estas bandas, é recente – tem mais ou menos a idade de Fernando Medina. A imprensa livre também é recente e, a avaliar por alguns exemplos da praça, a sua liberdade e sobrevivência estão ameaçadas. O poder, todo o poder, tem de ser escrutinado. Os anglo-americanos têm uma boa frase para definir isso: “It comes with the territory.” Ponto final.
A ditadura odiava o escrutínio, proibia-o. Mas quem julgue que 48 anos de ditadura não se entranharam num país, mesmo naqueles que não a viveram, está totalmente iludido.
Fernando Medina tem um problema para além de ter feito “um bom negócio” e de ter comprado uma casa a alguém que decidiu perder 195 mil euros quando a economia já dava sinais de recuperação. É que a maioria dos seus defensores são os que juravam que Sócrates vivia dos seus próprios meios – e que decidiram ignorar todos os sinais, todas as notícias que a imprensa livre foi publicando. Medina tem azar com os seus defensores na praça pública: foram os mesmos que fecharam os olhos – não queriam ver, não queriam saber, não queriam ler – à vida de luxo conseguida à conta de “empréstimos” do antigo primeiro-ministro.
Como se não bastassem os defensores históricos, veio agora José Sócrates solidarizar-se com Medina. Dificilmente lhe podia acontecer pior.
P.S. O “Expresso” publicou uma notícia, escondida lá numa página interior, segundo a qual Medina tinha aprovado um prémio à Teixeira Duarte para a antecipação do prazo das obras de São Pedro de Alcântara. Medina desmentiu a notícia, argumentando que não foi à reunião da câmara. Ora, Medina é presidente da câmara com maioria. A câmara agora decide contra a sua vontade? Se foi assim, deveria levar o assunto outra vez a votos.