1) Pedro Passos Coelho tem deixado o PSD derivar à direita, afastando-o da sua raiz fundadora. Uma coisa é um partido ser conservador e outra é ser neoliberal, populista ou xenófobo. Nestas três últimas características está resumido tudo o que o PSD nunca deveria ser. A faceta neoliberal foi a que facilitou a venda a pataco de empresas do Estado que rendiam dividendos e que hoje bem falta nos fazem pelos postos de trabalho que se perderam, pelos lucros cessados e pelos impostos que deixaram de render ao país, permitindo a investidores externos negócios chorudos com recuperação garantida do investimento em poucos anos. A faceta populista foi-se acentuando com discursos sistematicamente dirigidos contra os servidores do Estado e a sua faceta social, a par da proclamação de que só o mercado e a austeridade resolveriam o problema do país, cuja população tinha gasto à tripa-forra, pelo que era necessário ir além da troika e não ser piegas. Foi o que se viu. A Europa mudou a agulha, António Costa e Centeno perceberam, e todo o clima económico e social mudou, embora não esteja consolidado. Agora, Passos caucionou o discurso de André (des)Ventura, que contém uma óbvia e intencional mensagem de xenofobia e discriminação, que são precisamente duas coisas de que muitos portugueses são vítimas na diáspora de forma sistemática e repugnante. O discurso (antipatriótico desde logo) de Ventura foi construído para causar um efeito de divisão, quando não de confronto, e tornou-se ainda mais grave por ser feito no âmbito de uma campanha eleitoral na qual ele fala em nome do PSD. É significativo, de resto, que o candidato a autarca use um estilo e uma agressividade verbal nas suas intervenções semelhantes aos que utiliza nos programas em que comenta futebol e que, hoje, se transformaram no pior que há em termos de civismo, acicatando verdadeiras guerras tribais entre “hooligans” que não deveriam ocorrer no desporto, e muito menos na política de um país verdadeiramente democrático. Não se pretende com isto dizer que não haja razões de queixa de muitos comportamentos recorrentes de membros de algumas comunidades minoritárias, nomeadamente a cigana. Há, de facto. E, por isso, compete ao Estado e aos seus diversos agentes e poderes intervir, não contra uma comunidade no seu conjunto, mas contra este ou aquele cidadão em concreto que infrinja a lei, seja ele branco, amarelo, preto, cigano, judeu, cristão, muçulmano, homossexual ou outra coisa qualquer – os quais, aliás, são coletivamente os primeiros interessados no combate a comportamentos marginais. As regras da República são para todos cumprirem. Especificidades identitárias não podem, naturalmente, pôr em causa a harmonia social, a segurança e a tranquilidade coletiva. E também não é tolerável que se pratiquem sistematicamente atentados à integridade física ou à liberdade individual dentro de certas comunidades, com o argumento de que se trata de tradições culturais. Aos candidatos a lugares políticos e aos responsáveis máximos das suas organizações deve competir mais do que a simples denúncia oportunista e populista, tendo em vista a caça ao voto. Compete-lhes, sim, a apresentação de soluções adequadas e firmes para evitar certas situações. É nisso que o candidato Ventura e o líder do seu partido falharam redondamente. Melhor esteve Teresa Leal Coelho, ao distanciar-se desse discurso, mostrando que pode até não ser a melhor escolha contra Medina, mas que é social-democrata. Ficou-lhe bem.
Quanto aos partidos da geringonça e ao governo, é bom que não usem a situação como arma de arremesso política como o estão a fazer. Convém não esquecerem que são poder no país e nas zonas mais problemáticas, e que se o Estado não tem autoridade é, em boa parte, a eles que isso se deve. Fazer oposição à oposição é demagogia e facilitismo.
2) A Silopor é uma empresa de silos que está em extinção há… 16 anos. E a coisa promete estar para durar, o que é excelente para os seus administradores, que beneficiam de confortáveis mordomias inerentes à stressante atividade que impõe o ritmo frenético deste “súbito” fecho de atividade. Para reforçar a equipa e garantir que mantém o número de gestores imposto pelo quadro legal existente, a liderança da empresa foi mexida recentemente, procedendo-se à substituição de um dos seus administradores. A escolha recaiu sobre Samuel Cruz, um importante quadro socialista do Seixal, onde é vereador, na sequência de uma eleição que na altura gerou controvérsia. Curiosamente, a mulher do recém-nomeado trabalha na Junta de Freguesia de Alvalade, onde pontifica como presidente André Caldas, o chefe de gabinete de Mário Centeno no Ministério das Finanças. Esta nomeação suscita ainda outra curiosidade que reside no facto de ter ocorrido na véspera de sair a lei sobre a paridade de géneros. Mais tarde, já teria de ser nomeada uma mulher. Ele há oportunidades que dão mesmo jeito.
Jornalista