A vitória de Portugal no Europeu de França só foi possível devido a um conjunto excecional de fatores que convergiram no mesmo sentido. Portugal não era, nem de longe, a melhor seleção do Europeu. Assim, se os festejos populares se compreendem – embora tenham sido algo exagerados, desde o longo percurso pelas ruas de Lisboa até à receção apoteótica no Palácio de Belém –, os jornalistas especializados tinham obrigação de ser um pouco mais lúcidos e corajosos e de dizer a verdade.
Mas não. Criaram uma ilusão. Inventaram uma equipa-maravilha que nunca existiu. E esse facto teve alguma importância no que agora se passou. Fernando Santos quis mostrar que a vitória em França não foi um bambúrrio, quis manter a ilusão de que fomos uns campeões europeus merecidos, e levou para a Rússia toda a artilharia pesada. Se a seleção portuguesa vencesse a Taça das Confederações, “ratificaria” o êxito de Paris e calaria os céticos.
Esta abordagem foi um erro. Fernando Santos deveria ter aproveitado esta competição secundária para lançar na Rússia a “seleção do futuro”. Em vez de apostar nos “velhotes” – Rui Patrício, Bruno Alves, Pepe, Eliseu, Nani, Quaresma, mesmo Ronaldo –, deveria ter feito como a Alemanha, apresentando os seus sucessores: José Sá ou Marafona, João Cancelo, Nélson Semedo, Renato Sanches, Gonçalo Guedes, André Silva, Bernardo Silva, Gelson Martins.
É certo que alguns destes foram à Rússia e jogaram. Mas não eram a base da equipa. A equipa-base era constituída pelos velhotes, por jogadores experientes.
No embate decisivo contra o Chile, Gelson – o maior desequilibrador atual do futebol português – entrou a quatro minutos do fim do prolongamento. Porquê? Porque Fernando Santos privilegia os jogadores que seguram a bola aos que arriscam, rompem e jogam para a frente. Isto explica que André Gomes tenha sido sempre titular, sem fazer nada que se visse. Mas sabe segurar a bola…
No jogo com o Chile, a seleção foi fiel a si própria. Mostrou como são as equipas de Fernando Santos: manhosas, procurando reter a bola, mais preocupadas em não sofrer do que em marcar – mas sem rasgo, com medo de falharem, preferindo a segurança ao espetáculo.
Uma palavra final para o videoárbitro. Não provou. Não evitou erros crassos (como um penálti claro contra Portugal). Só atua pela negativa: serve para anular golos. mas não para evitar erros (como foras-de-jogo mal assinalados) que poderiam dar golo.
A introdução do videoárbitro no futebol significou a abertura de uma caixa de Pandora: o recurso às novas tecnologias nunca mais vai parar. Qualquer dia, o árbitro é um robô – a fazer o que lhe ordenam uns sujeitos metidos numa cabina a olhar para um ecrã. O videoárbitro vai matar o futebol – que chegou onde chegou sem precisar dele para nada.