Tenho medo


Sim, assumo, tenho medo. Devo dizer que tenho pavor de estar num local público e sofrer um atentado.


 Perdoem-me a fraqueza e a falta de solidariedade para com os que afirmam à boca cheia que, assumindo o medo e alterando os nossos hábitos de vida, estamos a resignar-nos e perdemos a batalha contra o terrorismo. 

Lamento, porque eu assumo o meu medo e penso duas vezes antes de tomar uma decisão que me possa expor a esse risco.

Eu assumo o meu medo quando queria levar as minhas filhas ao concerto de Ariana Grande em Lisboa e já não vou. Assumo-o quando gostaria de equacionar uma ida à Disney de Paris e já não é uma hipótese. 
Chamem-me cobarde! Mas só é cobarde quem conhece a causa do seu medo e não o enfrenta! Eu não conheço quem nos ataca. Não conheço as suas motivações! Não entendo a discricionariedade dos seus ataques nem a ausência de limites para a barbárie.

Não sou cobarde! Tenho apenas medo! 

E porque é que não posso assumir o meu medo? Em prol do quê? De quem? Perdemos se assumirmos o medo? E perdemos o quê? Contra quem?

É que fico confuso. São demasiadas incógnitas. Quem está por trás do ISIS? E quem esteve por trás da Al-Qaeda? Se são assumidamente sunitas (a ala mais ortodoxa do islamismo), quem os sustenta? Qual o papel da Arábia Saudita (maior Estado sunita) neste puzzle? Afinal é o Qatar (maioritariamente xiita) que apoia o terrorismo?

E os EUA, porque privilegiam as relações com os Estados de maioria sunita? Porque têm na Arábia Saudita, país que representa o que de mais ortodoxo há no islamismo sunita, o seu principal aliado? Porque é que, enquanto mártires se implodem na Europa ou atiram carros contra multidões, o presidente dos EUA assina contratos milionários de venda de armas com aquele país? Por que razão os EUA marginalizam os Estados xiitas do Médio Oriente?

Quem lucrou com o fim da hegemonia xiita no Iraque? Porque é que os EUA apoiam os rebeldes sunitas na Síria? O fim do regime de Saddam Hussein trouxe democracia, paz e estabilidade ao Iraque? E o afastamento de Bashar al-Assad vai trazer paz à Síria? E porque é que dura há três anos este conflito? E Kadhafi, que se assumia como berbere, tribo maioritariamente muçulmana, mas que não se assumem como tal e se designam como “imazighen”, que significa “homem livre”? Porque foi aliado durante tantos anos do Ocidente e de um dia para o outro se tornou incómodo?

Contra quem devemos não mostrar medo? Porquê os ataques em Londres, Paris, Bruxelas ou Nice? Porquê na Europa? Qual a motivação para ocorrerem aqui, se a Europa se tem mantido à margem das aventuras americanas no Médio Oriente? Porquê aqui, se acolhemos os refugiados? Quem fomenta e financia as lavagens cerebrais aos homens e mulheres que desencadeiam esses ataques?

Porque é que não posso ter medo? Como se explica a uma criança de dez anos um atentado? Como se explica sem tomar partido? Sem criar ódio? O que responder quando essa mesma criança pergunta se tenho medo? 
Sim, tenho medo! Tenho pavor que um dia aconteça aqui e não sei disfarçar! E enquanto não conseguir responder a todas estas perguntas continuarei a ter medo! Desculpem-me, mas se perder esta guerra é não demonstrar medo e inquietude, então já a perdi!
 

Tenho medo


Sim, assumo, tenho medo. Devo dizer que tenho pavor de estar num local público e sofrer um atentado.


 Perdoem-me a fraqueza e a falta de solidariedade para com os que afirmam à boca cheia que, assumindo o medo e alterando os nossos hábitos de vida, estamos a resignar-nos e perdemos a batalha contra o terrorismo. 

Lamento, porque eu assumo o meu medo e penso duas vezes antes de tomar uma decisão que me possa expor a esse risco.

Eu assumo o meu medo quando queria levar as minhas filhas ao concerto de Ariana Grande em Lisboa e já não vou. Assumo-o quando gostaria de equacionar uma ida à Disney de Paris e já não é uma hipótese. 
Chamem-me cobarde! Mas só é cobarde quem conhece a causa do seu medo e não o enfrenta! Eu não conheço quem nos ataca. Não conheço as suas motivações! Não entendo a discricionariedade dos seus ataques nem a ausência de limites para a barbárie.

Não sou cobarde! Tenho apenas medo! 

E porque é que não posso assumir o meu medo? Em prol do quê? De quem? Perdemos se assumirmos o medo? E perdemos o quê? Contra quem?

É que fico confuso. São demasiadas incógnitas. Quem está por trás do ISIS? E quem esteve por trás da Al-Qaeda? Se são assumidamente sunitas (a ala mais ortodoxa do islamismo), quem os sustenta? Qual o papel da Arábia Saudita (maior Estado sunita) neste puzzle? Afinal é o Qatar (maioritariamente xiita) que apoia o terrorismo?

E os EUA, porque privilegiam as relações com os Estados de maioria sunita? Porque têm na Arábia Saudita, país que representa o que de mais ortodoxo há no islamismo sunita, o seu principal aliado? Porque é que, enquanto mártires se implodem na Europa ou atiram carros contra multidões, o presidente dos EUA assina contratos milionários de venda de armas com aquele país? Por que razão os EUA marginalizam os Estados xiitas do Médio Oriente?

Quem lucrou com o fim da hegemonia xiita no Iraque? Porque é que os EUA apoiam os rebeldes sunitas na Síria? O fim do regime de Saddam Hussein trouxe democracia, paz e estabilidade ao Iraque? E o afastamento de Bashar al-Assad vai trazer paz à Síria? E porque é que dura há três anos este conflito? E Kadhafi, que se assumia como berbere, tribo maioritariamente muçulmana, mas que não se assumem como tal e se designam como “imazighen”, que significa “homem livre”? Porque foi aliado durante tantos anos do Ocidente e de um dia para o outro se tornou incómodo?

Contra quem devemos não mostrar medo? Porquê os ataques em Londres, Paris, Bruxelas ou Nice? Porquê na Europa? Qual a motivação para ocorrerem aqui, se a Europa se tem mantido à margem das aventuras americanas no Médio Oriente? Porquê aqui, se acolhemos os refugiados? Quem fomenta e financia as lavagens cerebrais aos homens e mulheres que desencadeiam esses ataques?

Porque é que não posso ter medo? Como se explica a uma criança de dez anos um atentado? Como se explica sem tomar partido? Sem criar ódio? O que responder quando essa mesma criança pergunta se tenho medo? 
Sim, tenho medo! Tenho pavor que um dia aconteça aqui e não sei disfarçar! E enquanto não conseguir responder a todas estas perguntas continuarei a ter medo! Desculpem-me, mas se perder esta guerra é não demonstrar medo e inquietude, então já a perdi!