Os smokings devidamente engomados, mas já a denotar o sinal do uso dos tempos, voltam a vestir-se para uma das últimas galas do 70.º festival de Cannes.
É o caso seguramente de David Lynch e do elenco de Twin Peaks, num remake, quase trinta anos depois, que tem merecido uma aclamação quase unânime.
Mas já está aí também o próximo motivo de falatório: a derradeira provocação erótica do francês François Ozon, em L’Amant Double.
No recinto do festival, saltam à vista as semelhanças entre a primeira cintura de segurança e a zona de embarque no aeroporto. E tornam-se ainda mais reais uma vez que são muitos os que levam malas de mão. Irão partir em breve? Certo é que nesta altura, exatamente como nos aeroportos, já ninguém arrisca levar perfumes, cosméticos ou ate mesmo peças de fruta ou de água para o interior do perímetro de segurança, tendo aprendido com a experiência que tudo é confiscado.
Quem também já se habituou às regras da passadeira vermelha são os fotógrafos amadores e os caça-autógrafos profissionais, seguramente empenhados em acrescentar à coleção a assinatura de Ozon e da sexy Marine Vacht. Quem também está pela varanda da sala de imprensa, que oferece uma vista privilegiada sobre a passadeira vermelha, são os polícias à paisana, invariavelmente vestidos de t-shirt cor de rosa, mas com um revólver a provocar uma saliência na cintura.
Nas ruas da cidade, já todos se habituaram aos agentes das forças de segurança em poses de combate e envergando equipamento que mais faz lembrar o jogo Call of Duty. Já tudo entrou no quotidiano de Cannes. Tal como os mupis que avisam que deitar uma lata de Coca-Cola para o chão pode valer uma multa de 180€euros. Bem-vindos a este admirável mundo novo, em que a festa do cinema rima com uma realidade a que não gostaríamos de nos habituar. Mesmo que com a presença quase diária de Nicole Kidman a acenar para os fotógrafos e para o mundo.