Semanas depois do início da rodagem de “The man who killed Don Quixote” em Portugal, filme do ex-Monty Python Terry Gilliam que esteve para ser coproduzido por Paulo Branco e que acabou por ser entregue à Ukbar Filmes depois de Gilliam ter acusado o produtor português de não cumprir as suas promessas, a Alfama Films, produtora de Paulo Branco em França, anunciou esta sexta-feira que a rodagem do “filme é manifestamente ilegal” e que a sua exploração, bem como a utilização das imagens “não poderá, de modo algum, existir sem acordo prévio da Alfama Films”.
Isto depois de, segundo a produtora num comunicado enviado às redações, ter sido confirmada pelo Tribunal de Grande Instância de Paris a “plena validade do seu contrato com o realizador Terry Gilliam no âmbito da produção da longa-metragem” em questão, que conta a história de um homem que viaja no tempo e que no século XVII se cruza com o protagonista da obra de Cervantes.
A polémica teve início em outubro do ano passado, altura em que era suposto ter tido início a rodagem do filme que a produtora de Paulo Branco tinha anunciado como a grande aposta para esse ano e que, contando com nomes como Adam Driver, Olga Kurylenko e Rossy de Palma entre o elenco, seria rodada entre Portugal e Espanha, com um orçamento total de 16 milhões de euros. Por essa altura a rodagem foi no entanto adiada, segundo Terry Gilliam por incumprimento de Paulo Branco na obtenção do financiamento.
“Tinha um produtor, um sujeito português, que afirmou que reuniria todo o dinheiro a tempo”, explicou na altura o ex-Monty Python em entrevista à BBC2, acrescentando que semanas antes “se provou que ele não tinha dinheiro”. Não houve nessa entrevista qualquer referência ao nome de Paulo Branco, mas não muitos dias depois Gilliam publicava no Instagram a famosa imagem da MGM com uma fotografia de Paulo Branco no lugar do leão, com uma mensagem sobre “como os filmes são adiados, lição 1: cuidado com a pessoa em quem decides confiar”.
Paulo Branco não teceu na altura comentários às acusações de Terry Gilliam e o assunto morreu até no início deste mês ter sido anunciado que o filme estava a ser rodado em Portugal, não com a produtora de Paulo Branco, mas com a Ukbar Filmes, de Pandora da Cunha Telles, enquadrado no novo programa de incentivos fiscais lançado em fevereiro pelo governo para atrair produções cinematográficas estrangeiras. Segundo explicou na altura Pandora da Cunha Telles à agência Lusa, trata-se de uma coprodução entre vários países — Portugal, Espanha, França, Bélgica e Inglaterra — com um orçamento que se manteve nos 16 milhões de euros iniciais, dos quais se prevê que 1,2 milhões sejam gastos em Portugal.
A desavença entre Terry Gilliam e Paulo Branco não foi o primeiro obstáculo à realização de “O homem que matou Dom Quixote”, projeto que o ex-Monty Python tentou pela primeira vez pôr de pé em 2000, com Johny Depp e Jean Rocherfort como protagonistas. Nessa altura, o filme chegou a começar a ser rodado em Navarra, mas o processo foi por problemas vários, já relacionados com falta de dinheiro mas também com uma lesão de Rochefort. Houve depois uma segunda tentativa, dessa vez com John Hurt e Jack O’Connell, mas de novo o filme acabou por não avançar. Resta saber o que acontecerá desta vez, porque a polémica parece longe de ter terminado.