“Cresci com alguns colegas negros na primária, um ou dois no liceu, e nenhum na universidade”, é assim que Joana Gorjão Henriques, em “Racismo em Português”, explica o que a motivou a escrever sobre o assunto. A partir de vários entrevistados em diferentes ex-colónias portuguesas diagnosticam-se as dimensões do racismo, apartheid e escravatura a que cada um destes países foi sujeito pela ação colonizadora do nosso país. A omissão desta parte da História dos compêndios das escolas permite uma leitura higienista do passado e a generalização da tese de uma alegada brandura do colonialismo português – o segundo simplificador -, tantas vezes corrente até no meio académico.
O terceiro simplificador consolida a ideia de que, em Portugal, o racismo é residual. A pouca expressão eleitoral de partidos que professam diretamente ideais racistas não deve obliterar a constatação da fraca diversidade existente em órgãos de representação e de poder ou as inúmeras expressões linguísticas que consolidam os estereótipos. Esta simplificação é ainda mais falsa quando avaliada na relação entre vizinhos e comunidades ciganas, onde se tolera a intolerância, não se lhe chamando racismo, ainda que transborde de xenofobia.
Como se percebe, este “mas” encontra terreno fértil na ignorância e só se combate com conhecimento. Não se trata de um conhecimento ocasional que permita a identificação de um “outro-bom” diferente dos “outros”, mas de um conhecimento – sem subterfúgios – da História, das pessoas e do presente.
Escreve à segunda-feira