Sarampo. Doença esquecida regressa como epidemia

Sarampo. Doença esquecida regressa como epidemia


Desde janeiro deste ano houve mais casos de sarampo em Portugal do que na última década. DGS alerta para para a necessidade de vacinar as crianças


“Estamos perante uma epidemia de sarampo”. Quem o diz é Francisco George, diretor-geral de Saúde. Segundo dados dos relatórios da Direção-geral de Saúde (DGS), nos últimos quatro meses o número de casos ultrapassou os da última década.

Os relatórios de doenças de declaração obrigatória mostram que, entre 2006 e 2014, foram registados 19 casos de sarampo em Portugal. Desde janeiro deste ano até hoje, foram diagnosticados 23.

“Foram notificados 23 casos, dos quais 11 confirmados pelo Instituto Ricardo Jorge, e os restantes 12 ainda em fase de investigação”, lê-se no site da DGS, que assume que o número pode vir a aumentar. No entanto, numa entrevista à Antena 1, Francisco George afirmou que Portugal “não vai ter um problema global”, pois a vacina contra o sarampo, que foi incluída no Plano Nacional de Vacinação em 1974, chega a 97% da população.

O mesmo responsável explica que a maioria dos 23 casos está relacionada com “crianças que não foram vacinadas”. No entanto, a doença foi também detetada em adultos que tinham sido vacinados. Sabe-se pelo menos do caso de quatro funcionários do Hospital de Cascais que contraíram a doença, depois de uma criança não vacinada ter dado entrada nestas instalações.

Neste hospital, foram detetados seis casos. De acordo com o “Expresso”, um dos mais complicados é o de uma jovem de 17 anos, que teve de ser transferida para o Hospital D. Estefânia, em Lisboa, devido ao agravamento do estado de saúde. A jovem terá apanhado a doença depois de ter estado em contacto com a criança que não estava vacinada. Esta terá 13 meses de idade.

“É incompreensível que um pai ou uma mãe não vacine um filho e decida sobre a sua saúde”, afirmou Francisco George, lembrando que o sarampo, em casos mais complicados, pode levar à morte.

Uma doença esquecida, mas perigosa Desde 1974 que a vacina contra o sarampo é gratuita. Com a implementação da segunda dose, em 1990, a doença acabou por, aos poucos, cair no esquecimento.

Antes disso, entre 1987 e 1989, foram notificados 12 mil casos em Portugal, culminando na morte de 30 pessoas, recorda a agência Lusa. No entanto, com a introdução destas medidas de prevenção, o número de casos começou a diminuir: em 1994 foram registados 3028 casos, 45 em 2000 e apenas 5 em 2012. Houve até anos – como em 2006, 2007 e 2008 – em que não foi identificado qualquer caso de sarampo. Em 2016, a Organização Mundial de Saúde chegou mesmo a atribuir a Portugal um diploma que oficializava o facto de o país estar livre de sarampo. Isto porque os poucos casos que eram registados tinham sido contraídos noutros países.

A primeira dose da vacina é administrada quando a criança tem apenas 12 meses, enquanto a segunda dose é dada quando são completados os 5 anos de idade.

O sarampo é considerado uma das doenças mais contagiosas de que há registo. Apesar de habitualmente ser benigna, pode levar à morte de quem o apanha. Começa por se manifestar através do aparecimento de pontos brancos na mucosa oral, uns dias antes de surgirem as erupções cutâneas. Se a doença continuar a evoluir, pode incluir otite média, pneumonia, convulsões febris e encefalite. O contágio pode ocorrer por via aérea ou pelo contacto direto com secreções nasais ou da faringe de pessoas infetadas, existindo um período de incubação que pode durar entre sete e 21 dias.