Campeonato. É cada vez mais de ouro o ovo da galinha  de Alvalade…

Campeonato. É cada vez mais de ouro o ovo da galinha de Alvalade…


Seis pontos perdidos nas últimas quatro jornadas deixam o FC Porto desconfortável e a depender mais do que nunca de um Sporting que poderá salvar a época tirando o título ao Benfica


Se Dona Águia apostou forte no cavalo dos arcebispos, não terá errado por muito. Aposta por aposta, percebemos no final do Benfica-FC Porto da Luz que os rapazes de Espírito Santo – um homem que, insisto, tem dado dignidade a um cargo muitas vezes maltratado, sobretudo pela prepotência de um presidente que ainda não compreendeu que o tempo das manigâncias e das tranquibérnias não volta mais e se reduz, hoje, às porcarias feitas pela canalha do Canelas – apostaram tudo o que tinham no ovo da galinha de Alvalade, e só assim se entendem os festejos que tão estranhamente protagonizaram.

A partir de agora, as contas ficam cada vez mais fáceis de fazer. Depois do empate do FC Porto na Pedreira, o Benfica passou a somar três pontos de avanço sobre o seu adversário na luta pelo título. E isto quando tem, já no sábado, o seu teste decisivo no confronto com o Sporting, do outro lado da Segunda Circular. Defendo há muitos anos a teoria da utilidade dos resultados. Que pode, neste momento, encaixar-se na facilidade desta equação indesmentível: vão os encarnados a Alvalade com dois resultados úteis – a vitória e o empate. Qualquer deles fará com que saiam do dérbi na frente do campeonato. E, se assim for, a quatro jornadas do fim, podem pelo menos tratar de ensaiar as medidas para o fatinho do título.

Os bichos

Estamos, por este prisma, no jogo dos bichos. O cavalo da cidade dos arcebispos saiu na frente e empatou o dragão. O ovo da galinha de Alvalade ainda não foi evacuado mas, se se revelar autêntico – e se o FC Porto vencer o Feirense em casa, como é sua obrigação –, mudará o topo da classificação, não por causa dos pontos, mas sim pela diferença dos golos. E aí, tudo muda. Quem comandou o pelotão até agora ver-se-á ultrapassado, com todas as consequências psicológicas que isso acarreta e das quais todos nós, que nos interessamos pelo fenómeno do jogo inventado pelos ingleses, estamos conscientes.

Alvalade decidirá o campeonato? Em caso de vitória do Benfica, ficamos com poucas dúvidas sobre isso. Trata-se de passar para além do Bojador e a Índia ficará ali ao estender da mão. E, convenhamos, se houver um empate, toda a crença portista cairá por terra. Por isso mesmo estranhámos tanto aquela festarola que se seguiu ao clássico, extemporânea, inconsistente e até um bocado bacoca. Mas cada um ergue os braços ao céu perante as dádivas que de lá caem, melhores ou piores. Convenceram-se os portistas que saindo da Luz a apenas um ponto do Benfica, as jornadas que se seguiriam lhes entregariam o título em mãos. Bom… Facto mais preocupante para quem tem o azul e branco como cores de preferência é perceber que, nas últimas quatro jornadas – que se seguiram a um ciclo de nove vitórias consecutivas –, o FC Porto já perdeu a ninharia de seis pontos: empates com Vitória de Setúbal, Benfica e Braga.

Com alguma crueza, dir-se-ia que estamos perante a evidência de falta de estofo de campeão. Mas tudo isto cairá por terra no caso de os portistas conquistarem o título, pelo que vale esperar para ver onde param as modas. Por seu lado, o Benfica regressou às vitórias sem espinhas frente a um Marítimo que tem sido presa fácil na Luz. Injeção de moral para a semana de guerrilha que se avizinha, com a perspetiva de comunicados e recados publicados nos jornais ou nas redes sociais por parte de um presidente completamente antissocial, como o é o presidente do Sporting? Sim. Sem dúvida. Perceberemos entretanto qual a resposta que vai ser dada às mais que previsíveis provocações de uma estrutura (muito desestruturada, benza-a Deus) que já se percebeu estar totalmente a favor de uma vitória do FC Porto no campeonato. Ter sido eleito e reeleito com base num confronto com o Benfica deixam Bruno de Carvalho e o seu homem de mão – Jesus – na confrangedora situação de serem, neste momento, reféns de um eventual título dos portistas. É esse o seu objetivo, a sua vicissitude: tirar o campeonato das mãos do seu rival lisboeta. Uma pobre consolação, diremos. Mesmo muito pobre. Mas que justifica e sustenta a política levada a cabo até agora. Destinado desde há muito a ser um tristonho terceiro colocado de um campeonato medíocre, o Sporting está à beira de se tornar, finalmente, um protagonista de uma peça na qual fez sempre papel de figurante.

Sábado ficaremos a saber muito sobre o futuro de uma competição que se aproxima vertiginosamente do seu final. E se aí atrás, no corredor da página, falámos em ter ou não ter estofo de campeão, pode muito bem acrescentar-se que chegou a hora de o Benfica demonstrar que o tem. Saindo de Alvalade com o título no bolso. Se assim não for, vamos ter ombro a ombro até ao fim. Para já, a jornada que hoje termina na Madeira deu fôlego a Dona Águia. Vai voando lá no alto, na mira de um tiro certeiro que a fira na asa…