Se a estes casos juntarmos os de bandas como os dos Pixies, Wire e Feelies, todos com edições recentes, verificamos que a geração de 80 não é uma peça exclusiva de museu. Houve quem nunca tivesse interrompido a marcha, houve quem tivesse voltado do túmulo e sobretudo, foram vários os casos a demonstrar ainda ter uma palavra a dizer além da nostalgia.
Depeche Mode
Trinta e sete anos depois de se terem formado em Essex ainda cá andam, gravam álbuns relevantes, são cabeças de cartaz de festivais e esgotam estádios. Esta sexta-feira chega "Spirit". Em Julho estarão no NOS Alive.
U2
A mais popular de todas as bandas rock da sua geração e a maior desde os anos 80. Há quem queira cavar a sepultura dos U2 mas eles vão quebrando recordes de bilheteira e selando acordos com a Apple – como quando invadiram o iTunes com "Songs of Innocence". Se as pessoas ainda querem ouvir o que têm para dizer, é outra questão mas Bono, The Edge, Larry Mullen Jr. e Adam Clayton esforçam-se por se manter na crista da onda.
The Cure
Tal como os Depeche Mode, os Cure continuaram a fazer álbuns mas, ao contrário destes, em plano inclinado desde "Disintegration" de 1989. Talvez por isso, os concertos tenham sempre o aspecto de um regresso a uma época, do reencontro de uma geração ou de…uma cerimónia fúnebre em que todos os mortos saem da toca.
New Order
Herdeiros dos Joy Division, souberam ultrapassar a morte de Ian Curtis e reinventar o tom cinzento e desolado de Manchester numa música efusiva e virada para as pistas ou para os palcos. Os anos 90 passaram-lhes quase ao lado – pararam a seguir a "Republic" de 1993 – mas desde 2000 que estão activos. Três álbuns e digressões regulares são o currículo no Séc. XXI. E já sem o baixista Peter Hook.
Duran Duran
Nem sempre bem amados, nunca desistiram. O álbum de estreia "Rio" continua a ser olhado como o mais importante da sua obra mas ao longo de quase quarenta anos de existência já foram capazes de conquistar êxitos como "Ordinary World" e reconhecimento para discos como "All You Need Is Now".
Pixies
Mais novos que estes, os Pixies são uma banda de transição entre as décadas de 80 e 90. Sem eles, provavelmente os Nirvana não teriam existido. Num primeiro momento, o regresso ficou-se pelos palcos mas em 2014 voltaram a gravar – motivando a saída da baixista Kim Deal. "Indie Cindy" (2014) e "Head Carrier" (2016) foram mal recebidos mas garantem aos Pixies a manutenção da vida de estrada.
Jesus & Mary Chain
Entre o clássico "Psychocandy" (1985) e o quase esquecido "Munki" (1998), os Jesus & Mary Chain deram novo sentido ao ruído. No primeiro disco, havia quem achasse que o som sujo e rugoso era defeito de fabrico. Depois de terem ressuscitado o álbum inaugural em palco, os irmãos Jim e William Reid arriscaram voltar a gravar. "The Damage and Joy" chega no dia 24.
Wire
Se se tratasse de política, os Guns N'Roses eram republicanos e os Wire um partido de esquerda radical. A forma mais imediata de medir a sua importância é por aqueles a quem deixaram um testemunho: Franz Ferdinand, Mogwai ou My Bloody Valentine. Nunca acabaram mas conheceram períodos de quase indigência. Há cerca de dez anos, retomaram um ritmo normal de edições e soam a uma banda sem rugas.
The Feelies
Não há muita gente que conheça os Feelies mas quem ouve não os esquece. O som de guitarras herdado dos Velvet Underground e o balanço rítmico quase jazzístico do inaugural "The Crazy Rhythms" fazem deste um clássico subvalorizado do pós-punk. Em 2017 decidiram reunir as tropas e tentar a sorte com "In Between". Sem necessidade.
Guns N'Roses
Quase se pensa nos anos 80, os Guns N'Roses raramente são lembrados mas o calendário demonstra o inverso. Na segunda metade da década, já andavam a fazer miséria e a destruir camarins, primeiro em Los Angeles e daí para o mundo com as primeiras digressões mundiais a apanharem boleia de "Appetite for Destruction" e "G N' R Lies". Nunca acabaram mas a formação clássica ficou reduzida a Axl Rose que, com os seus novos companheiros, pôs fim à espera interminável por "Chinese Democracy" em 2008. O reencontro mais esperado da história recente do rock – isto é, Smiths e Led Zeppelin à parte – pode resultar em material novo.
Metallica
Sim, os Metallica são dos anos 80 e só chegaram ao grande público no verão de 91 quando "Black Album" conciliou o inconciliável: heavy metal e cultura pop. Estiveram oito anos sem gravar entre "Death Magnetic" e "Hardwired…To Self Destruct" mas voltaram em grande estilo com um álbum líder das tabelas mundiais de vendas. Portugal incluído.
Red Hot Chili Peppers
Ainda mais do que os Guns N'Roses, os Red Hot Chili Peppers são vistos como uma banda dos anos 90 porque foi nessa década que conquistaram o mundo a abri-la como "Blood Sugar Sex Magic" (1991) e a fechá-la com "Californication" (1999). Para trás, há um passado de punk-funk, drogas, mortes por overdose e riffs emprestados pelos Gang of Four. Agora são vegetarianos e têm aulas de ioga. Em Julho, vão estar no Super Bock Super Rock.
Faith No More
Uma história quase decalcada dos Red Hot Chili Peppers com pequenas diferenças. Trocaram de vocalista nos anos 80, acabaram em 1998 para regressar dez anos mais tarde sob a promessa de não voltar a gravar. O contraditório chegaria em 2015 com "Sol Invictus". Pode ter sido um último suspiro.
Xutos & Pontapés
Há muito que o ritmo editorial dos Xutos & Pontapés abrandou. Cinco anos de álbum para álbum é o suficiente para dizer presente. Na estrada são omnipresentes. Já fazem parte da história de Portugal. No início do ano, gravaram um single por Alepo. Em 2018, fazem 40 anos.
UHF
Tal como os Cure são Robert Smith, os UHF são António Manuel Ribeiro e é graças à perseverança do líder (e à estabilização de uma formação) que se mantêm vivos e activos. A 18 de Março no Campo Pequeno e a 1 de Abril no Pavilhão Multiusos de Guimarães apresentam o espectáculo "Sinfónico".