Dominguices e pintelhices


Estava na dúvida, depois de duas semanas de interregno na publicação de artigos, sobre qual o tema que iria abordar. Tinha duas alternativas: ou o episódio dos sms ou o livro do sr. Silva. Optei pelo que, ainda assim, me parece menos irrelevante e que me mais me toca.


À falta de melhores argumentos, por estes dias, a atividade ou a guerrilha política centra-se nos sms entre Centeno e Domingues, no diz que disse ou no diz que eventualmente disse e na essencial comissão parlamentar para o apuramento da verdade.

Se querem que vos diga, não me podia estar mais a borrifar para estas “pintelhices” e só mesmo a falta de argumentário político de arremesso ocupa o PSD e o CDS nesta novela deprimente. Quando as coisas correm bem, a geringonça vai funcionando e os dados económicos são auspiciosos, o que fazemos? Vamos martelar um não assunto!
Honestamente, não entendo como é possível alimentar por tanto tempo este tema.

Faz-me, aliás, confusão que uma pessoa que, supostamente, estava à beira da reforma e com planos de se dedicar à vela e à leitura de filosofia (pelo que se deduz que não iria passar os próximos tempos em dificuldades), aceita um desafio de missão de serviço público, mas se escusa a jogar com as mesmas regras que os demais.
Até compreendo que Domingues não queira expor o seu património e a sua declaração de rendimentos. Mas para tal só tinha de declinar o convite e dedicar-se então à vela.

Não compreendo que lhe passasse pela cabeça que ele pudesse ser uma exceção a todos os gestores e detentores de cargos públicos e escusar-se a apresentar a sua declaração.
Da mesma forma que não entendo que Centeno lhe possa ter aberto a porta a essa possibilidade, até porque, desconfio, Domingues há muitos.

Mas, na minha opinião, é bem mais grave a presunção de regime de exceção que Domingues avoca como se se tratasse de um grande favor que estivesse a prestar ao país. Não, obrigado! Dispenso gestores públicos e voluntaristas com tiques de estrela de rock e espero que este episódio tenha criado jurisprudência e não voltemos a ter mais “dominguices”!
Agora, a discussão em torno da nova comissão parlamentar… 

Parece que o país não tem assuntos mais importantes em que se concentrar, como se não houvesse matérias em que efetivamente seria importante haver debate e concertação, em que os deputados nação pudessem alinhar estratégias para o crescimento do país ou em que se debatesse de forma séria reais problemas da nossa sociedade… Não! Vai de se criar uma comissão parlamentar para apurar os sms entre Domingues e Centeno! Desculpem, mas não encontro melhor adjetivação do que, literalmente, uma pintelhice! 

E como não há mais nada para fazer, vai de se gastar erário público para apurar o conteúdo das conversas de um ministro com um putativo servidor público (sim, porque as comissões de inquérito são pagas aos intervenientes, caso não saibam).

É deprimente o estado a que chegou a oposição CDS/PSD… bom, mas pelo menos que se entretenham com isso e não estraguem o que está a ser feito… já não é mau.
 

Escreve à quinta-feira