Maike Mia Höhne. “Podíamos ter selecionado ainda mais filmes portugueses”

Maike Mia Höhne. “Podíamos ter selecionado ainda mais filmes portugueses”


Curadora da secção de curtas da Berlinale explica a extraordinária representação portuguesa na edição deste ano e mostra-se solidária com os cineastas e produtores portugueses na polémica relacionada com escolha dos júris, que não está a passar despercebida em Berlim.


Depois da sessão de estreia de “Altas Cidades de Ossadas”, filme que marca o regresso de João Salaviza à competição das curtas do Festival de Cinema de Berlim, que venceu em 2012 com “Rafa”, conversámos com Maike Mia Höhne, curadora da secção em que este ano Portugal se faz representar por quatro filmes. Além da nova curta de Salaviza, “Coup de Grâce”, de Salomé Lamas, “Cidade Pequena”, de Diogo Costa Amarante, e “Os Humores Artificiais”, de Gabriel Abrantes, que tem esta quarta-feira a sua estreia oficial.

O que explica uma presença tão forte do cinema português na competição das curtas, com quatro filmes, um ano depois de o Urso de Ouro ter ido para “Balada de Um Batráquio”, de Leonor Teles?

Pois é, estão sempre a ganhar! Em 2012 foi “Rafa” [de João Salaviza o vencedor], no ano passado foi a Leonor, que também trabalhou neste filme do João Salaviza. Acho que isto tem a ver com uma pequena comunidade de cineastas muito inovadora em Portugal que tem um sistema de distribuição de curtas muito ativo, através da Agência da Curta Metragem e as Curtas de Vila do Conde. Parece-me que há uma educação para isso, por ser um país pequeno em que se veem muitos filmes e eu acho que isso ajuda no desenvolvimento de uma voz artística. E são tão diferentes os quatro filmes uns dos outros… A certa altura tive que parar, não podíamos ter uma competição só de filmes portugueses, porque podíamos ter selecionado ainda mais.

De verdade?

Sim, mas isso também é um reflexo de quantidade de bons filmes que recebemos e às tantas termos que fazer opções.

A verdade é que com exceção da Alemanha nenhum outro país tem nesta edição uma representação tão grande como Portugal.

Os franceses também costumam ser muito bons, têm toda uma história cinematográfica. O que acho interessante aqui é o facto de Portugal estar com estes problemas agora com os júris. Épreciso que as pessoas perceba que os júris têm que ser compostos pelas pessoas mais qualificadas, com uma mente aberta, muita experiência de festivais onde se trabalha com outros júris.

Já assinou a carta de solidariedade com os produtores e realizadores portugueses que está a correr pelo festival?

Ainda não consegui, mas vou assinar. Isto é ridículo.

A primeira sessão das Berlinale Shorts terminou aliás com Luís Urbano, produtor do filme de Salomé Lamas, a dizer que não produziria mais curtas pois estava em greve.

O Luís é um produtor mesmo importante. Conhecemo-lo há muitos anos e há muitos anos que ele produz curtas-metragens, portanto se o Luís diz “estou em greve”, se eu estivesse na situação de decidir quem iria escolher os júris daria ouvidos a este homem. Ele é um dos produtores mais relevantes de um cinema que envolve as pessoas de uma nova maneira, está a alargar fronteiras com Miguel Gomes, Maren Ade, come on.