Podemos acabar com o partido?

Podemos acabar com o partido?


O Podemos teve uma súbida rápida nas mãos de Pablo Iglesia e de Iñigo Errejón. Os dois estão de costas voltadas e confrontam-se na Assembleia do partido em Vistalegre. 


O conflito está ao rubro e disputam-se, cada um dos 450 mil inscritos. Até estrangeiros. Um conhecido arquiteto português, que se inscreveu nas listas de informação do Podemos, recebeu mensagens para votar do anti-capitalista Miguel Urban e Teresa Rodríguez, do pablista Juan Carlos Monedero e dois emails de Iñigo Errejón. Quando contestava que não era espanhol, diziam-lhe que podia votar na mesma.

Este fim de semana reúne nos arredores de Madrid, em Vistalegre, a Assembleia do Podemos. Nela vão participar 10 500 militantes do Podemos e estão acreditadas 400 pessoas de órgãos de comunicação social. Na votação das orientações estratégicas, direção e secretário-geral poderão votar, por internet, os 450 000 inscritos no Podemos.
A direção eleita será constituída por 62 conselheiros a que se somarão 17 secretários das regiões autónomas e o representante dos militantes do Podemos fora de Espanha. Serão votados os documentos de orientação política, organizativo, ético de igualdade de géneros, mais a direção e à parte do secretário-geral. As votações serão feitas por internet até sábado à noite e os resultados serão conhecidos no domingo. Este método de votação, que pretende vincular as listas de direção ao programa, foi aprovado em dezembro. Nessa altura, a proposta de Pablo Iglesias teve só mais 2000 votos que a de Iñigo Errejón, e os anti-capitalistas [corrente trotskista próxima do BE português] teve cerca os 10% dos votos restantes.

As principais divisões entre Pablo Iglesias e Iñigo Errejón são pessoais e políticas. O segundo pretende que o Podemos não faça unidade com a Esquerda Unida e se apresente como um partido fora do eixo esquerda e direita, tendo como principal objetivo ganhar as próximas eleições legislativas. Os pablistas defendem um partido que aposte nos movimentos sociais e não só no parlamento e que não se confunda com o PSOE. "Não temos que ser aves de rapina [para conquistar os votos dos socialistas]. Temos que respeitar esses votantes e querer que eles se juntem a nós, mas não lhes dizer que somos o PSOE", afirma Pablo Iglesias. Por sua vez, os adeptos de Errejón que adotaram a saudação do “V” da vitória, semelhante à do PSD português, querem conquistar os votos do centro e não serem tomados como um partido de protesto. " Há uma aposta muito firme para sermos úteis onde já estamos. Não queremos ser um partido de protesto, mas um partido que faz algo de muito mais radical: demonstrar aos espanhóis que sabemos denunciar o que não funciona, mas sobretudo que estamos em condições de resolver estes problemas e governar Espanha", defende Iñigo Errejón.

As divisões no grupo de universitários, sobretudo oriundos do curso de Ciência Política da Universidade Complutense de Madrid, que lançou o Podemos dificilmente serão sanadas depois desta assembleia.
Dois dos fundadores, Carolina Bescansa, antiga número três do Podemos, e Luís Alegre, que foi secretário coordenador do Podemos e próximo de Pablo Iglesias, já se manifestaram indisponíveis para continuar na direção do partido e criticaram o clima de confronto e animosidade existente entre os dois líderes e os seus apoiantes.
Está aberta uma crise política, já que Pablo Iglesias já afirmou que não será secretário-geral se os seus documentos de orientação e a sua lista não ganharem as outras votações. E os errejonistas, que não apresentam proposta de secretário-geral, garantem que haverá uma caça à bruxas, e destituição de metade do partido, caso as propostas de Pablo Iglesias triunfem.