A idade em política


A obsessão das novas gerações pelo curto prazo alimenta-lhes a soberba etária que os faz muitas vezes piores que os mais velhos


“O homem passa por três idades. A tolice da juventude, a luta da maturidade e os remorsos da velhice” Benjamin Disraeli

Qual tem sido, é e poderá vir a ser a importância da idade em política? Quão determinante foi, é e será para a mobilização eleitoral, para vitórias eleitorais, para a renovação etária e programática dos partidos políticos, para a melhoria da relação dos mais jovens com a política, etc.? Estas e outras reflexões têm merecido vários tipos de abordagens (científicas e políticas comparadas).

Por razões comuns e também por algumas singularidades portuguesas. Desde logo, por Portugal ter sido durante anos o segundo país mais novo etariamente, com cerca de 40% da população a ter tido menos de 35 anos e por ter atualmente, na prática, o inverso.

Ou seja, por ser o segundo país mais velho e com a taxa de natalidade mais baixa da Europa. A que se junta outra singularidade: a de o nosso país ter sido um dos países na Europa onde as juventudes partidárias tiveram mais influência e poder dentro dos seus partidos políticos (com grande representatividade e peso nos órgãos locais, distritais, nacionais, nas inerências, nas listas de deputados, etc.) e fora dos seus partidos políticos, tudo traduzindo uma posição de força e de poder pouco usual noutros países – singularidade esta, justiça seja feita, assente na força eleitoral derivada das características socioeleitorais de um país que tinha e teve, nos jovens, uma bolsa eleitoral grande, para vencer eleições e alcançar até maiorias absolutas.

A que se somou uma forte necessidade, de toda essa massa eleitoral, de participação política e cívica que se queria traduzida em causas mobilizadoras. Desde logo, como criar mecanismos novos de participação associativa, com quadro legal de direitos e deveres, de incremento do associativismo e de causas mobilizadoras, como o acesso à educação, o combate ao desemprego, o papel do serviço militar obrigatório, o acesso à habitação, o direito ao ambiente, de entre outras matérias mobilizadoras, próprias, para darem respostas justas às legítimas expectativas e ambições de uma faixa eleitoral da população.

Nos últimos anos, no mundo, na Europa e em Portugal, as alterações económicas e sociais ocorreram, as dinâmicas sociopolíticas ainda mais, os centros de interesse das várias bolsas eleitorais acentuaram-se, o grau de exigência das pessoas alterou-se (para pior nuns aspetos e para melhor noutros) e os novos media e os velhos media vieram introduzir um novo tempo mediático, um novo ritual de acesso e sobrevivência nos media, e até a perceção da importância da estética, do ponto de vista mediático, se alterou.

E numa sociedade de cabelos brancos, de inversão total em relação (no caso português) há 30 anos atrás, em que, para se vencer eleições (aliás, o mesmo sucedendo na Europa), isso implica agora mobilizar e “ter” os votos das faixas etárias acima, sobretudo dos 50 anos, amiudadas vezes se tem imposto a questão de qual é a importância da idade em política.

Será importante e determinante apenas e só para vencer eleições? E aqui importa ter presente que uma coisa é vencer eleições no mercado eleitoral e partidário e outra coisa é tentar imitar partidos políticos que têm a ambição de chegar apenas aos 10%.

E qual será ou deverá ser a importância da idade em política no que diz respeito ao recrutamento político partidário, ao recrutamento e ao protagonismo nos vários órgãos de soberania, ao peso eleitoral dentro dos partidos políticos, à influência na agenda programática e política, cada vez mais intermediada pelos velhos e pelos novos media a cada segundo que passa? Esta questão da importância da idade em política assume e irá assumir cada vez maior importância para a vida dos eleitores, para os partidos políticos e para as juventudes partidárias.

Hoje, ser dirigente de uma juventude partidária é muito mais difícil do que há dez, 20, 30 anos. Sobretudo para os que quiserem trabalhar sem ser como clubes de ideias de um segmento eleitoral cada vez mais reduzido e minoritário. Causas novas, diferenciadoras e mobilizadoras devem ser ainda mais aprofundadas. Uma delas, e talvez até a mais relevante, é a natalidade. Mas existem outras.

Que não se devem reduzir (e aqui entra a questão ideológica) ao conceito indeterminado e vago, da visão liberal da sociedade e do mundo, da exclusiva liberdade de oportunidades. Tudo isso é muito redutor. Bem como uma outra questão, bem mais relevante, é a feminização da sociedade, que veio para ficar – feminização essa que, do ponto de vista até eleitoral, será cada vez mais relevante.

Nestes como noutros assuntos associados, como a importância da estética em política (outro ponto a desenvolver), impõe-se que se acentue também a necessidade de as gerações mais novas investirem muito do seu tempo a perceberem mais e melhor a história, a memória de muito do que foi e é o património do seu país e dos seus próprios partidos.

É que ninguém terá futuros reluzentes sem antes conhecer a sério e respeitar o passado e a memória. Sobretudo quando agem como se os cronómetros do tempo só começassem a funcionar quando iniciaram a sua participação nas coisas da pólis. A sua obsessão pelo curto prazo alimenta-lhes a soberba etária que os faz muitas vezes piores que os mais velhos.

 

Escreve à segunda-feira