Ir ao IPO do Porto é sempre uma sensação estranha.
Por um lado, entras e vês tudo organizado, tudo limpinho, tudo quase bonito. É bonito, o IPO do Porto. É inegável. As linhas são modernas, as pessoas são simpáticas e há esperança nos corredores. Tens voluntários que te encaminham para o consultório correto, mostrando–te o caminho que terás de percorrer, não só esse “vira à esquerda, depois à direita e é ali a sua consulta”, mas o percurso que no tempo tiver de ser, terás de fazer. Guiam-te, “para a esquerda, depois à direita”, ao mesmo tempo que te sorriem e te dizem que terás de aprender a ter paciência, mas que não estarás sozinho. E vais-te perdendo pelos corredores “porque viraste duas vezes à direita” e choras porque te sentes mais assustado do que perdido. É sempre estranho ires ao IPO, porque tens a estranha sensação de que até te sentes bem naquele lugar, quando só querias estar em casa.
Quando entrei no IPO do Porto para participar no evento do Secretariado Clínico, este fim de semana, imaginei–me ali. Gosto de entrar num lugar e sentir-me, por momentos, nessa realidade. E isso acontece ao entrar num Instituto de Oncologia, onde me imagino sem cabelo, ou quando visito um castelo e vejo uma Marine de cabelo comprido, com uma tiara no topo e facilmente enfadada, por ser uma princesa. E nessa projeção do “e se eu não estivesse apenas de visita ao IPO?” respirei um ar que já me era conhecido.
Embora o espaço, o edifício, a cidade seja diferente do outro IPO que conheço tão bem (por lá ter esperado, horas, como cuidadora, ou do Hospital Universitário que me internou e embalou os pesadelos crónicos e me deu histórias que me tornaram quem sou), o ar pareceu-me o mesmo. Respira-se esperança e adrenalina em todos os espaços, onde a vulnerabilidade está escrita nas paredes. Cheira a amor e a coragem em todos os espaços, onde o fundamental é apresentado à entrada. Vi-me ali, por momentos, e afinal senti que já ali tinha pertencido.
Depois de também pedir ajuda para encontrar o caminho certo até ao auditório, ansiosa para conversar com as mais de 300 pessoas que se disponibilizaram para nos ouvir, eis que esbarro no Careca Power Jorge, que há tanto tempo tentava que finalmente nos cruzássemos ao vivo e a cores. Num abraço grande que me acolheu, soube que não poderia ter melhor receção e que não queria outra, aliás. Foi o sorriso daquele Careca Power, que ia encontrando na plateia, que mais me encorajou a falar com humor.
E o mais incrível é que ninguém consegue estar numa conferência ou a participar numa conversa no IPO e não falar de amor. Podemos expor estatísticas, apresentar especialistas à comunidade, empolgarmo-nos com as inovações tecnológicas, recolher dados, mas se não se falar de amor, nada disso tem, de facto, importância. Não nos interessamos sequer pelo assunto se não nos falarem em amor, se não sentirmos que a energia que flui é o amor. Queremos ouvir os responsáveis por um lugar que pega nas tantas vidas pela mão, mas não o ouviremos se não nos falar com amor. Se não nos fizer sentir que o esforço e o trabalho de quem trabalha no IPO são regados pela vontade intrínseca, íntima, pura de fazerem o melhor por todos aqueles que entram pelas intimidantes portas do IPO, com a certeza que tudo será diferente de então em diante.
Ainda incrédula e inspirada por ter sido possível rir e fazer rir, às gargalhadas, 300 pessoas num ambiente que achamos, à partida, que é composto de medo e de dúvida, saí com a certeza de que esse amor tinha estado presente em todos os oradores, em todos os ouvintes, mas compreendi mais do que isso. Finalmente, percebi que não precisava de ser experiente na área para perceber de que é feito o IPO do Porto, de Lisboa e todos os outros que não conheço, mas onde, se lá entrasse, inalaria o mesmo ar.
O IPO é feito de amor.
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