Era verdade há 30 anos, e hoje também. Não nos damos conta da importância deste tema, mas sabiam que sem os cabos submarinos (óticos) estaríamos (para quem se lembra) a comunicar com telegrafia, telex, a telefonia fixa ou fax? Que os cabos submarinos asseguram, na prática, 100% das comunicações internacionais (internet incluída)?
Para as gerações de 80 e 90 é um nonsense, para as deste século seria um filme de terror!
Mas esqueçam a parte lúdica e social que a internet nos proporciona. Pensem na parte económica. No impacto que teria se, de um momento para o outro, deixássemos de ter emails ou tivéssemos de enviar faxes ou bips e de esperar por um retorno de contacto, ou simplesmente definir uma estratégia logística com um mapa de papel? Um pesadelo! Mas (pensarão) impossível. Não é de todo verdade! Nos últimos anos, enquanto a Portugal Telecom (que incorporou a Marconi, detentora de uma rede de cabos submarinos invejável) desinvestia neste ramo do setor, as grandes empresas internacionais faziam o inverso. Investiam (e continuam a investir, como já aqui dei nota disso) em novas e modernas redes de cabos submarinos.
Por cá, deixámos morrer um negócio que em tempos foi altamente rentável e de investir num setor que é absolutamente nevrálgico para sustentar uma estratégia de economia digital que tentamos agora (e bem) pôr em marcha no nosso país.
Lamento desiludir-vos, mas todo este frenesim de startups, Web Summit, co-working spaces… esqueçam. Cai tudo por terra (ou, no mínimo, não terá o efeito que se espera) se não tivermos uma estratégia (que agora será sempre de remendo) em relação à rede de comunicações internacionais e no modo como queremos recolocar Portugal no mapa. Mais grave ainda é se, porventura, no nosso próprio país tivermos um problema de comunicações entre o Continente e as regiões autónomas. Não é possível, dirão! O pior é que é!
Sem grandes detalhes, a interligação entre o Continente, os Açores e a Madeira (para o tráfego doméstico) é conseguida por duas ligações em cabo submarino (um par de fibras cada) estabelecidas em 2000 e integradas nos dois cabos internacionais que passam por Portugal, o Columbus-3 e o Atlantis-2. Estes cabos são já antigos e com uma esperança de vida apontada até 2025. Contudo, o tráfego continua a aumentar a um ritmo exponencial (à data do lançamento dos mesmos) existindo a possibilidade de se assistir a um early retirement dos referidos sistemas. Se isso acontecer, o resultado será o fim das comunicações como temos hoje entre o Continente e as Ilhas. A alternativa? Satélite, pois claro! E a qualidade das comunicações? E as limitações na velocidade? E o delay da própria comunicação? E o custo das comunicações, que disparará? Já alguém se lembrou disto? Não se espantem se um dia destes vos disserem: “Envia-me um fax!”
Escreve às quintas-feiras