Sócrates tem de sair do PS, obviamente


Um homem que é suspeito de fuga ao fisco vai falar a um partido que põe o fisco a entrar nas nossas contas bancárias sem qualquer mandado judicial? Tenham vergonha.


O almoço de apoiantes de José Sócrates, no passado sábado, foi de tal modo bizarro que alguns leitores escreveram a este jornal para averiguar se o texto da reportagem realizada não era antes uma paródia. Infelizmente, não era.

O ex-primeiro-ministro invocou mesmo a Convenção dos Direitos Humanos para sua defesa, com frases de uma densidade filosófica como: “Eles acham que a justiça só faz o que é justo.”
O mais chocante, todavia, foi o momento de apogeu do almoço. Sócrates criticava a atual direção de António Costa no Partido Socialista – um seu ex-
-ministro – e a sala respondia com gritos pelo PS. O PS de Sócrates, não o de Costa. Duzentas pessoas a gritar por um partido contra o líder desse partido é, politicamente, excêntrico.

Houve quem escrevesse que, com a geringonça, António Costa estava a colocar-se acima do Partido Socialista.
A pôr a sua ambição de ser primeiro-
-ministro à frente da tradição democrática do PS; até porque, fora da política, nem acabou o estágio de Direito. Sobre a dita tradição democrática ir pelo cano abaixo, não são analistas ou militantes da oposição que o dizem, são socialistas. Os dignos, que preservam a liberdade acima do aparelho.

Mas, se como esta coluna já insistiu diversas vezes, a contemporânea solução de governo será o suicídio político socialista para o genocídio económico nacional, na medida em que Costa desfez o legado de um partido do qual é membro desde criança para desfazer a credibilidade de um país que lhe deu vida e emprego, é notório que, antes dessa implosão, existe uma ameaça maior ao sr. primeiro-ministro. Chama-se José Sócrates. E levanta uma questão: será que, à exceção de António José Seguro, o Partido Socialista está condenado a ter líderes que se julgam maiores que o Partido Socialista? É que a vida não correu nada bem à exceção, nem parece que vá correr muito bem à regra.

Tornou-se escabroso que o único homem que conseguiu dar uma maioria absoluta ao PS na história da República corrente venha agora tentar dividir o partido, arriscando rasgá-lo ao meio e não sobrar nada. António Costa pode escapar a derrotas eleitorais, às sanções europeias, aos avisos de Teodora Cardoso e aos vetos de Marcelo Rebelo de Sousa, mas de José Sócrates é ligeiramente mais difícil livrar-se. Porque ele já avisou: voltou para ficar.

Há cerca de uma semana, quando Sócrates apareceu pela primeira vez num evento institucional do PS desde a sua prisão, fiquei pasmado. Então um homem que é suspeito de corrupção e fuga ao fisco vai falar a um partido que põe o fisco a entrar nas nossas contas bancárias sem qualquer mandado judicial? Vergonha na cara, não?

Costa prossegue em silêncio face à ofensiva do seu antecessor. Sócrates já atirava o PS, uma instituição com quase meio século de existência, contra o Estado de direito e contra a justiça portuguesa. António Costa, como líder, não pode deixar que o partido seja agora usado como plataforma contra o próprio partido.

Um partido de governo não deve sujar a sua imagem com a sede de poder de alguém, mas aí entendo o silêncio de Costa. Não tem moral para falar.

Institucionalmente, José Sócrates ultrapassou na totalidade a discordância democrática ou qualquer tipo de debate interno partidário. O que se passou naquele almoço foi uma contestação à liderança, e proibir futuros convites não chega – tem de sair. Faça um partido, em vez de patrocinar a autodestruição do seu.

Quando Ana Gomes é a única voz com o bom senso de perceber que isto está mal, algo no Partido Socialista só pode estar muito errado.

Escreve à sexta-feira


Sócrates tem de sair do PS, obviamente


Um homem que é suspeito de fuga ao fisco vai falar a um partido que põe o fisco a entrar nas nossas contas bancárias sem qualquer mandado judicial? Tenham vergonha.


O almoço de apoiantes de José Sócrates, no passado sábado, foi de tal modo bizarro que alguns leitores escreveram a este jornal para averiguar se o texto da reportagem realizada não era antes uma paródia. Infelizmente, não era.

O ex-primeiro-ministro invocou mesmo a Convenção dos Direitos Humanos para sua defesa, com frases de uma densidade filosófica como: “Eles acham que a justiça só faz o que é justo.”
O mais chocante, todavia, foi o momento de apogeu do almoço. Sócrates criticava a atual direção de António Costa no Partido Socialista – um seu ex-
-ministro – e a sala respondia com gritos pelo PS. O PS de Sócrates, não o de Costa. Duzentas pessoas a gritar por um partido contra o líder desse partido é, politicamente, excêntrico.

Houve quem escrevesse que, com a geringonça, António Costa estava a colocar-se acima do Partido Socialista.
A pôr a sua ambição de ser primeiro-
-ministro à frente da tradição democrática do PS; até porque, fora da política, nem acabou o estágio de Direito. Sobre a dita tradição democrática ir pelo cano abaixo, não são analistas ou militantes da oposição que o dizem, são socialistas. Os dignos, que preservam a liberdade acima do aparelho.

Mas, se como esta coluna já insistiu diversas vezes, a contemporânea solução de governo será o suicídio político socialista para o genocídio económico nacional, na medida em que Costa desfez o legado de um partido do qual é membro desde criança para desfazer a credibilidade de um país que lhe deu vida e emprego, é notório que, antes dessa implosão, existe uma ameaça maior ao sr. primeiro-ministro. Chama-se José Sócrates. E levanta uma questão: será que, à exceção de António José Seguro, o Partido Socialista está condenado a ter líderes que se julgam maiores que o Partido Socialista? É que a vida não correu nada bem à exceção, nem parece que vá correr muito bem à regra.

Tornou-se escabroso que o único homem que conseguiu dar uma maioria absoluta ao PS na história da República corrente venha agora tentar dividir o partido, arriscando rasgá-lo ao meio e não sobrar nada. António Costa pode escapar a derrotas eleitorais, às sanções europeias, aos avisos de Teodora Cardoso e aos vetos de Marcelo Rebelo de Sousa, mas de José Sócrates é ligeiramente mais difícil livrar-se. Porque ele já avisou: voltou para ficar.

Há cerca de uma semana, quando Sócrates apareceu pela primeira vez num evento institucional do PS desde a sua prisão, fiquei pasmado. Então um homem que é suspeito de corrupção e fuga ao fisco vai falar a um partido que põe o fisco a entrar nas nossas contas bancárias sem qualquer mandado judicial? Vergonha na cara, não?

Costa prossegue em silêncio face à ofensiva do seu antecessor. Sócrates já atirava o PS, uma instituição com quase meio século de existência, contra o Estado de direito e contra a justiça portuguesa. António Costa, como líder, não pode deixar que o partido seja agora usado como plataforma contra o próprio partido.

Um partido de governo não deve sujar a sua imagem com a sede de poder de alguém, mas aí entendo o silêncio de Costa. Não tem moral para falar.

Institucionalmente, José Sócrates ultrapassou na totalidade a discordância democrática ou qualquer tipo de debate interno partidário. O que se passou naquele almoço foi uma contestação à liderança, e proibir futuros convites não chega – tem de sair. Faça um partido, em vez de patrocinar a autodestruição do seu.

Quando Ana Gomes é a única voz com o bom senso de perceber que isto está mal, algo no Partido Socialista só pode estar muito errado.

Escreve à sexta-feira