Se ainda há quem duvide da grandeza lusitana, 2016 pode ser o ano da clarificação. Somos pequenos e olhados, muitas vezes, com uma desconfiança implantada por preconceitos de estereótipo de povo sulista, de praias douradas, tempo ameno, boa bebida e boa comida, assolado por escândalos de corrupção, incumprimentos, falta de rigor e incapacidade governativa. A verdade é que temos (aos poucos) dado cartas pelo mundo fora.
À cabeça, naturalmente, o desporto e, em concreto, o futebol! Depois de vários “quase” (uma das palavras mais utilizadas no nosso léxico), lá conquistámos um Europeu! Brilhante, emocionante e um motivo de orgulho que nos encheu o peito. Ainda no mesmo campo, temos o melhor jogador do mundo e já tivemos o melhor treinador do mundo.
Tivemos a presidência da Comissão Europeia e de lá (goste-se ou não, critique-se ou não, não é o que está em causa) saltámos para a presidência do maior banco de investimentos do mundo.
Os exemplos são muitos e variados e, se pensarmos que tudo isto sai de um retângulo com menos de 10 mil km2 e uma população de menos de 11 milhões, os índices de probabilidade de a pessoa ao nosso lado vir a ser notabilizada, convenhamos, são elevados.
A expetativa, agora, é grande em torno de Guterres e, para mim, este seria o motivo de maior orgulho nacional possível. Não pelo facto de ser um português a ocupar a cadeira de secretário-geral das NU. Mas pelo homem! Pela grandeza, superioridade e retidão de António Guterres.
Duvido que se lembre, mas tive o privilégio de trabalhar com ele e observar a sua capacidade. Decorria o xiv Governo Constitucional, António Guterres acumulava o cargo de PM com o de presidente da Internacional Socialista (IS). Eu colaborava com o Gabinete de RI do Partido Socialista (chefiado por José Lamego) e estive na organização do Conselho da IS, escassos anos após ter terminado o curso de Relações Internacionais e meio atordoado pelo mediatismo e o contacto com os principais líderes mundiais.
O conselho foi dominado pela possibilidade de um encontro entre Shimon Peres e Yasser Arafat. Os jornais esgravatavam à procura de informação que confirmasse esse encontro. Eu dei por mim numa sala entre Mossad e serviços secretos palestinos, discutindo os problemas de segurança do eventual encontro. Os problemas eram muitos e as dificuldades apontavam para a impossibilidade do encontro. Reportei ao José Lamego e a António Guterres os problemas que se levantavam. Guterres, depois de ouvir, apenas disse: “Calma! Eles vão encontrar-se.”
Confesso que toda aquela calma me enervou. Eu, stressado por todo lado, e ele impassível.
A verdade é Shimon Peres e Yasser Arafat tiveram o primeiro encontro público desde as eleições que levaram Ariel Sharon ao poder, pediram o apoio da comunidade internacional para pôr fim ao conflito e, no final do conselho, António Guterres declarou-se satisfeito: “Foi uma reunião histórica.”
Nem concebo outra possibilidade que não a de António Guterres à frente das Nações Unidas.
Escreve às quintas-feiras