“A grande desilusão foi sentir a velocidade com que as pessoas esquecem tudo aquilo que fizemos, como deixam rapidamente de acreditar no nosso valor, no nosso trabalho.”
Nelson Évora
Vivemos, nas sociedades “ocidentais” e sobretudo europeias, numa espécie de voragem obsessiva por atingir a “modernidade”. Uma espécie de nova ideologia. Derivada em grande parte do laicismo radical, camuflada pela abusiva utilização da ciência e alimentada pelo lado pior do relativismo. Esta nova ideologia da “modernidade” tem uma espécie de agenda global e de agendas setoriais que, sustentadas pelo generalismo e pelas redes sociais, onde todo o tipo de lixo se propaga, em muito têm servido para esconder uma verdadeira intenção de “modernizar” o mundo, a Europa e até países como Portugal, com base em matérias ditas fraturantes não só na área dos costumes, mas também no que diz respeito ao papel do Estado na vida das pessoas.
Essa espécie de falsa ideologia é muito protagonizada por gente que não são mais do que estatistas, revolucionários, trotskistas, feministas radicais, espartanos(as) travestidos(as) de lobos(as) com pele de cordeiro. Muito minoritários nas sociedades contemporâneas, justiça lhes seja feita, são manipuladores(as) talentosos(as) coligados(as) com alguns poderes fácticos e mediatizados para implementar essa sua ideologia com uma agenda para a modernidade, deixando que se instale a perceção mediática de que estão do lado dos bons contra os maus – alimentando fraturas perigosas nas sociedades contemporâneas, como é o caso de Portugal. A pretexto da juventude etária de alguns dos seus mensageiros(as), assumem-se como revolucionários de um mundo novo. Pelo caminho da sua manipulação percebe-se que o que pretendem e “defendem” não é mais do que uma agenda velha que, na prática, nem vem do séc. xx. Antes pelo contrário, em muitos aspetos vem do séc. xix e, noutros, até do tempo de Esparta. Abominam, com a sua agenda, o verdadeiro progresso, a religião (daí serem laicistas radicais militantes), as tradições (procurando reduzi-las à idade das cavernas), os costumes (diabolizando-os como se fossem os representantes do pior da vida), fazendo tudo para desestruturar a célula familiar (responsabilizando-a pelas suas maiores dificuldades em implementar grande parte da sua agenda “moderna”). E por último defendem enganadoramente que o Estado seja dono, senhor e condicionador de tudo. Esta agenda e a sua estratégia de implementação são um embuste para (no nosso caso) os portugueses e as portuguesas. São perigosos(as)? São. E têm aliados fortes? Têm. Sobretudo nos media velhos e novos. E com eles vale tudo. As suas prioridades não são as da maioria das pessoas. Os objetivos a atingir, muito menos.
Têm paciência para desestruturar muito do que foi conseguido nas sociedades contemporâneas e plurais. Alimentam-se do ruído, da insinuação, da contradição, da ignorância, do sono mediático ampliado. Esta falsa nova ideologia, que mais não é que uma agenda velha, caduca e que falhou por muitos anos em várias partes do mundo, tem sido causadora de muitos males. Por isso, alguns incautos já nem sabem, inebriados, quem são os bons e os maus. Antes pelo contrário. Já lhes trocam os lados. Tanto que quem faz e vive a sua vida de modo normal fica muitas vezes em modo de desatualização.
Esta ideologia da modernidade morreu no séc. xx. E ao quererem ressuscitá-la estão, na prática, a tentar enganar-nos e a impor–nos uma agenda para um mundo que não existe. Para os seus defensores, o Estado tem de ser rei e senhor, controlador. Esta sua receita não é alternativa à ortodoxia dos números e dos mercados. Antes pelo contrário. Não sendo alternativa, é acima de tudo aliada e parceira, por tantas contradições fazer alimentar. É pena que no espaço mediático muito lhes seja permitido.
O seu projeto para países como Portugal é pior do que os projetos de alguns revolucionários do séc. xx e do final do séc. xix.
A sua força, apesar de tudo isto, é muitas vezes fazerem-nos percecionar que o mundo e a vida estão perigosamente ao contrário. É pena. Mas é a verdade. E de forma prática, tal constatação faz-nos perceber que, de facto, hoje é mais fácil os maus fazerem-se passar por bons. Com a maior das paciências e impunidades. O mais escandaloso e incoerente é que alguns membros da classe política portuguesa, uns mais novos e outros nem tanto, os tentem imitar sobretudo nos costumes, com a expectativa de melhor serem levados ao colo não só pelos media como por líderes políticos.
É por isso que o mundo e a vida estão mesmo ao contrário. Goste-se ou não que o afirmemos e constatemos.
Escreve à segunda-feira