A crise das sociedades do pleno emprego


A OIT estima, por outro lado, que vão ser precisos nos próximos 15 anos cerca de 600 milhões de empregos para sustentar a nossa sociedade contemporânea consumista


“Políticas ativas de emprego não podem fazer muito numa recessão.”
David Card, professor da Universidade 
de Berkeley, EUA

Portugal, a Europa, o mundo tem milhões de pessoas à procura de emprego. Só na Europa estima-se que sejam 25 milhões. Emprego, um direito consagrado constitucionalmente nos Estados da generalidade das geografias continentais, políticas e económicas, que tem vindo a transformar-se no maior problema de muitas das sociedades contemporâneas. São várias as causas que concorrem para esta crise das sociedades de pleno emprego. E são várias também as consequências. Até porque as expectativas criadas pela generalidade da classe política nos países da Europa têm sido grandes. Nomeadamente de aumento de emprego, de diminuição da precariedade laboral. Segundo vários indicadores e estudos, o desemprego é um flagelo para as sociedades europeias e ocidentais, de pendor consumista e garantístico. 

Independentemente das receitas políticas e económicas a adotar em vários países europeus e considerando as suas várias especificidades, não existem dúvidas de que o emprego, o trabalho, nas sociedades contemporâneas europeias, não vai aumentar, como desejaríamos, nas próximas décadas. Aliás, o presidente da Universidade de Harvard afirmou que “a Europa está a entrar num período de estagnação secular”. Este universitário de renome vai mais longe e sustenta que só o regresso dos países ao investimento público, obrigando a alterações significativas em vários tratados que o proíbem na prática, poderá contribuir também para a diminuição do desemprego, bem como outras alterações na política económica europeia, liderada pela Alemanha. Só tudo conjugado poderá fazer estilhaçar a estagnação secular. A crise vigente há demasiado tempo nas sociedades do pleno emprego só será debelada se forem assumidas também outras mudanças. A saber, que a feminização das sociedades contemporâneas e a consequente melhoria do desempenho académico das mulheres têm de ser ainda mais estimuladas e potenciadas. E mais bem enquadradas nas suas especificidades. Até porque são vários os estudos que fundamentam que as mulheres têm menos apetência para algumas formações em áreas do saber já muito saturadas, onde as diferenças salariais infelizmente ainda subsistem. Vários estudos atestam que as mulheres são quem, em termos globais, tem menor apetência para mudar de emprego. E que, quando tal sucede, têm de percecionar evidentes ganhos na conciliação entre a vida profissional e a familiar. No caso português temos ainda muitos estrangulamentos e problemas para resolver. O nosso país é o pais da Europa com maior índice de cobertura de contratação coletiva. O mercado laboral português convive com problemas que já há muito deveriam ter sido ultrapassados. Desde logo, muita rigidez jurídico-laboral ao nível da contratação e do despedimento, fraca produtividade, escassez de mão- -de-obra qualificada em muitos setores e fortes gastos de dinheiros públicos na manutenção de emprego ou por via de instrumentos como o subsidio de desemprego e afins, muito penalizadores para o equilíbrio das nossas contas públicas. Um milhão de portugueses estão na condição de trabalho a recibos verdes, com contratos a termo. Meio milhão de portugueses recebem só o salário mínimo. Metade da população portuguesa tem no seu trabalho o seu principal meio de vida. E isto acontece quando, por exemplo (é só um indicador entre vários), só 3 mil milhões de pessoas das 7 mil milhões que o mundo tem vivem só do seu emprego.

Vários estudos atestam que os países mais desenvolvidos vão continuar a perder emprego. Cerca de 5 milhões de empregos.

A OIT estima, por outro lado, que vão ser precisos nos próximos 15 anos cerca de 600 milhões de empregos para sustentar a nossa sociedade contemporânea consumista. E que o emprego, como bem escasso, vai continuar a gerar grandes controvérsias. 

As profissões do futuro vão ter de ter presentes a especialização, a flexibilidade, o emprego não público e conteúdos não só de pendor tecnológico. Cada vez irão ser mais necessárias e valorizadas as empresas, as profissões de relação, e não só as de conteúdo tecnológico. Se o mundo digital revolucionou a disponibilização de informação, por outro lado matou as relações humanas, pessoais e de proximidade. As profissões de relação serão tão ou mais importantes e valorizadas que as profissões de valor tecnológico. 

Vamos ter de regressar às relações e profissões de proximidade de caráter físico e afins. O grau de exigência vai ser tão elevado que a sensação de esgotamento de carreira profissional acontecerá mais cedo e as pessoas procurarão cada vez mais uma segunda carreira. Os empregos para toda a vida serão, com poucas exceções, uma miragem. 

Escreve à segunda-feira 


A crise das sociedades do pleno emprego


A OIT estima, por outro lado, que vão ser precisos nos próximos 15 anos cerca de 600 milhões de empregos para sustentar a nossa sociedade contemporânea consumista


“Políticas ativas de emprego não podem fazer muito numa recessão.”
David Card, professor da Universidade 
de Berkeley, EUA

Portugal, a Europa, o mundo tem milhões de pessoas à procura de emprego. Só na Europa estima-se que sejam 25 milhões. Emprego, um direito consagrado constitucionalmente nos Estados da generalidade das geografias continentais, políticas e económicas, que tem vindo a transformar-se no maior problema de muitas das sociedades contemporâneas. São várias as causas que concorrem para esta crise das sociedades de pleno emprego. E são várias também as consequências. Até porque as expectativas criadas pela generalidade da classe política nos países da Europa têm sido grandes. Nomeadamente de aumento de emprego, de diminuição da precariedade laboral. Segundo vários indicadores e estudos, o desemprego é um flagelo para as sociedades europeias e ocidentais, de pendor consumista e garantístico. 

Independentemente das receitas políticas e económicas a adotar em vários países europeus e considerando as suas várias especificidades, não existem dúvidas de que o emprego, o trabalho, nas sociedades contemporâneas europeias, não vai aumentar, como desejaríamos, nas próximas décadas. Aliás, o presidente da Universidade de Harvard afirmou que “a Europa está a entrar num período de estagnação secular”. Este universitário de renome vai mais longe e sustenta que só o regresso dos países ao investimento público, obrigando a alterações significativas em vários tratados que o proíbem na prática, poderá contribuir também para a diminuição do desemprego, bem como outras alterações na política económica europeia, liderada pela Alemanha. Só tudo conjugado poderá fazer estilhaçar a estagnação secular. A crise vigente há demasiado tempo nas sociedades do pleno emprego só será debelada se forem assumidas também outras mudanças. A saber, que a feminização das sociedades contemporâneas e a consequente melhoria do desempenho académico das mulheres têm de ser ainda mais estimuladas e potenciadas. E mais bem enquadradas nas suas especificidades. Até porque são vários os estudos que fundamentam que as mulheres têm menos apetência para algumas formações em áreas do saber já muito saturadas, onde as diferenças salariais infelizmente ainda subsistem. Vários estudos atestam que as mulheres são quem, em termos globais, tem menor apetência para mudar de emprego. E que, quando tal sucede, têm de percecionar evidentes ganhos na conciliação entre a vida profissional e a familiar. No caso português temos ainda muitos estrangulamentos e problemas para resolver. O nosso país é o pais da Europa com maior índice de cobertura de contratação coletiva. O mercado laboral português convive com problemas que já há muito deveriam ter sido ultrapassados. Desde logo, muita rigidez jurídico-laboral ao nível da contratação e do despedimento, fraca produtividade, escassez de mão- -de-obra qualificada em muitos setores e fortes gastos de dinheiros públicos na manutenção de emprego ou por via de instrumentos como o subsidio de desemprego e afins, muito penalizadores para o equilíbrio das nossas contas públicas. Um milhão de portugueses estão na condição de trabalho a recibos verdes, com contratos a termo. Meio milhão de portugueses recebem só o salário mínimo. Metade da população portuguesa tem no seu trabalho o seu principal meio de vida. E isto acontece quando, por exemplo (é só um indicador entre vários), só 3 mil milhões de pessoas das 7 mil milhões que o mundo tem vivem só do seu emprego.

Vários estudos atestam que os países mais desenvolvidos vão continuar a perder emprego. Cerca de 5 milhões de empregos.

A OIT estima, por outro lado, que vão ser precisos nos próximos 15 anos cerca de 600 milhões de empregos para sustentar a nossa sociedade contemporânea consumista. E que o emprego, como bem escasso, vai continuar a gerar grandes controvérsias. 

As profissões do futuro vão ter de ter presentes a especialização, a flexibilidade, o emprego não público e conteúdos não só de pendor tecnológico. Cada vez irão ser mais necessárias e valorizadas as empresas, as profissões de relação, e não só as de conteúdo tecnológico. Se o mundo digital revolucionou a disponibilização de informação, por outro lado matou as relações humanas, pessoais e de proximidade. As profissões de relação serão tão ou mais importantes e valorizadas que as profissões de valor tecnológico. 

Vamos ter de regressar às relações e profissões de proximidade de caráter físico e afins. O grau de exigência vai ser tão elevado que a sensação de esgotamento de carreira profissional acontecerá mais cedo e as pessoas procurarão cada vez mais uma segunda carreira. Os empregos para toda a vida serão, com poucas exceções, uma miragem. 

Escreve à segunda-feira