Durante vários dias, o mundo assistiu a um espetáculo de assombro, esforço e superação individual daqueles que dedicam a sua vida a ser o melhor do mundo: a nadar, a saltar, a jogar, etc. São minutos ou segundos da vida do atleta que, diante de milhões de pessoas, ao vivo e a cores, podem correr mal: tropeçar, escorregar, cair, falhar. É admirável e aqui deixo os meus parabéns aos atletas portugueses, que muito bem se posicionaram para um país como o nosso, que só pensa em futebol e, ainda por cima, seletivamente, recordando as dificuldades que Rui Jorge ultrapassou para convocar a seleção olímpica.
Porém, como todas as aspirações políticas, os Jogos Olímpicos (JO), além deste lado nobre, associado à prática do desporto e à competição de atletas de várias origens e culturas, exemplificam a insustentabilidade de megaeventos desportivos. O caso brasileiro é moralmente mais grave porque as fantasias de cimento armado que ergueram a cápsula olímpica, de qualidade duvidosa, foram construídas sobre a miséria brasileira, numa sociedade caótica e corrupta.
Fotografias das estruturas construídas para edições anteriores dos JO circularam nos media, causando espanto e estupefação pelo seu abandono e desprezo, atestando a efemeridade destes eventos, alegrias passageiras, dívidas duradouras e encargos inúteis, não muito diferentes, ainda que noutra escala, dos estádios construídos para o Euro 2004. Derrapagens, euforia, endividamento, manutenção, custos, despesa, turismo, progresso. São as palavras de ordem para descrever esta megalomania justificada em nome do desporto.
E nem refiro os escândalos associados aos JO, como o de Patrick Hickey, que os retratam como mais um exemplo de corrupção e clientelismo. Andrew Zimbalist, em “Circus Maximus” (Brookings Institution Press, 2015), exclui das más experiencias dos JO apenas os casos de Barcelona, Los Angeles e Londres. Zimbalist explica que uns JO custam entre 10 e 20 biliões de dólares e o retorno não ultrapassa os 5 biliões, lançando várias perguntas para reflexão: porque não organizar um evento menos megalómano e mais comedido, eficiente e sustentável? Porque não, por exemplo, criar uma aldeia olímpica fixa ou repartir a organização dos JO por vários países?