“Tenho molas nos pés e salto”, cantam os Clã como se de uma inevitabilidade se tratasse. E, de facto, mal os pés entram nestas botas de sola instável, não há mesmo nada a fazer, é hora de saltar. O difícil é mesmo ficar parado quando se trata de estar em cima de quase dois quilos de molas flexíveis que nos fazem crescer logo uns bons 15 centímetros.
Entre vários “uhooos” de quem sente que vai cair para a frente ou para trás a cada segundo, aos braços a girar em equilíbrio e os pés a bater rápido no chão, os primeiros minutos não são dignos de registo. “Olha em frente e flete os joelhos.” Perante o nosso ar perdido, António Falcão vai debitando as indicações possíveis para não darmos de cara no chão. “Não te preocupes que é quase impossível alguém cair.” A garantia de quem foi pioneiro na modalidade em Portugal dá-nos alguma segurança. Assim, pomos o olhar no horizonte, fletimos os joelhos, contraímos tudo o que é possível contrair e… não é que conseguimos? Calma, não estamos já em modo Inspetor Gadget a saltar pela cidade, mas já somos capazes de dar umas voltas a correr à volta do estúdio. “Pronto, agora diverte-te.” Se António autoriza, quem somos nós.
A partir do momento em que a confiança de que a posição vertical se mantém aumenta, a vontade é de subir os joelhos o mais alto possível, arriscando num pé coxinho ou até mesmo num salto em comprimento.
“Bem, vamos treinar?” Agora é que estragou tudo. Com a loucura do saltitar quase nos esquecíamos que aquelas botas especiais servem para algo mais do que para um regresso à infância. Começamos com uma corrida básica, à qual António vai acrescentando desafios. Mais rápido, mais lento, joelhos mais altos ou os calcanhares a tocar nas nádegas, que já se anteveem em estado de dor no dia seguinte. “Agora vamos agachar.” A ordem envolve equilíbrio e força nas pernas mas, ao espelho, a coisa já não parece tão amadora.
“Ao contrário dos patins em linha, que requerem alguma prática, no caso dos kangoos, essa prática fica-se pelos primeiros segundos.” E estamos aqui para provar que é verdade.
Quando António nos desafia para irmos até à rua, o primeiro impulso é sentar e começar a descalçar a bota, literalmente. “Nem pensar, vamos mesmo assim.” Já que o mote é o regresso à infância, começamos de mão dada, com o professor a abrir caminho. Mas tal como a criança que acha que já não precisa de ajuda, a meio do caminho decidimos avançar sem medos. Abrir portas, descer e subir escadas até foi fácil. Curiosamente, o difícil foi conseguirmos manter-nos parados durante a curta viagem de elevador. “Mãe, olha”, sussurra a criança que teve a sorte de connosco descer até ao rés-do-chão. De dedo apontado às botas cor-de-rosa nos nossos pés, já só ouvimos ao longe um “que fixe” acompanhado por um encolher de ombros da mãe, que corta pela raiz qualquer esperança de ver um par destes debaixo da próxima árvore de Natal.
Saltos que curam À primeira vista e ao primeiro salto, podem até parecer algo feito para brincar. Mas na verdade, estas foram botas criadas para serem usadas em fisioterapia, tendo em conta que as molas servem de amortecedor e diminuem o impacto do movimento. “Ao contrário do que pode parecer, esta não é uma bota para saltar, é uma bota que absorve o impacto”, lembra António.
A este benefício para as articulações juntou-se outro que agrada à maioria e faz qualquer um perder a vergonha de andar aos saltos em plena Lisboa: os exercícios feitos com kangoos levam a um gasto energético 30% superior ao de um treino normal. E se queimar calorias não fosse já motivo suficiente, soma-se outro, quase em forma de cirurgia estética: os saltos, como levam a uma regeneração das células, têm uma função anti-idade. Ou seja, 45 minutos a saltitar e acaba mais novo e mais magro. “E ainda por cima é divertido”, lembra António, que há cerca de dois anos se tornou uma espécie de embaixador da modalidade em Portugal.
Se inicialmente apenas os mais corajosos se aventuravam nos saltos e, mesmo assim, entre quatro paredes, agora é vê–los de botas calçadas para dançar, fazer aeróbica, boxe e até running em todo o terreno. Está dado o mote para irmos em passo de corrida de volta à base, mesmo que por baixo dos nossos pés esteja a mítica calçada portuguesa. “Há quem diga que é mais fácil andar de kangoos que de saltos”, brinca António. Nós, fãs convictos de rasos, confirmamos a teoria.
Horário
Segunda-feira
das 12h30 às 13h15
Local
Clínica Malo
Avenida dos Combatentes n.º 43, Lisboa
Preço
8 euros cada aula
(60 euros livre-trânsito
com acesso à aula)
A partir de 4 euros
por aluguer de meia hora
no Belém Bike