Quando o cancro faz figura de otário porque o amor vence


Nunca me tinha arrebatado tanto ouvir as palavras “na saúde e na doença” e encontrar-lhes o maior significado. Deveria ser obrigatório que cada “cagaço” tivesse depois um resultado feliz.


Tenho um fraquinho por casórios. Sou demasiado suscetível a casamentos com significado, com pessoas que se amam, que se agarraram à vida, como os gatos se agarram aos sofás. Comove-me a entrega, comove-me a noiva, comove–me o pai da noiva, que confia, tremendo, que o genro saberá amar o seu tesouro, e comove-me o noivo, a quem não ligamos patavina. 

Comove-me o amor que, desconfio, tem sido o maestro da minha dança.

Este sábado estive no casamento de duas pessoas que são protagonistas de uma das histórias de vida mais bonitas que conheço. Sabem aquelas histórias que nos contavam, já deitados na cama, e que acabavam com o final “e foram felizes para sempre”? Esta é uma história ainda mais sublime do que essas que conhecemos de cor – porque não tem final. A Vanessa e o Filipe não deixaram que lhes fosse dado um final. 

A Vanessa namora com o Filipe “desde sempre”. Não é um daqueles “desde sempre” arrastados, já secos, sem paixão, de quem está por estar. É daqueles “desde sempre” porque nunca fez sentido de outra maneira. É daqueles “desde sempre” estampados com o símbolo do destino porque só poderia ser assim. E este sábado, o “desde sempre” transformou-se em “para sempre”.

Acho que eles não sabem disso, digo–lhes agora, mas inspirei-me muitas vezes neste amor para respirar melhor, quando o meu “para sempre” teve um fim. Acho que eles não sabem disso, mas eu também precisava que eles ficassem juntos. Bem sei que não tenho de querer nada, que a vida dos outros a mim não me diz respeito, mas era-me tão importante que o conto de fadas fosse tornado real. Era-me tão importante substituir as lágrimas de quem perde por aquelas que sabem a alegria e emoção (até nisso eles foram generosos porque distribuíram lenços aos convidados antes da cerimónia). Era--me tão importante presenciar o dia em que, depois de ambos terem cuidado um do outro porque os dois sobreviveram ao cancro, se viveu o “sim” que nos soube a nós, testemunhas daquele amor, como a resposta perfeita ao cancro:

“Perdeste, otário. O amor venceu.”

Nunca tinha estado num casamento de duas pessoas que conheci no Cancro com Humor. Nunca me tinha arrebatado tanto ouvir as palavras “na saúde e na doença” e encontrar-lhes o maior significado. Deveria ser sempre assim. Deveria ser obrigatório que cada “cagaço” tivesse depois um resultado feliz, que cada desafio fosse depois festejado debaixo de fogo-de-artifício, com fotografias e bolo de chocolate, que cada cuidador dançasse a valsa com o seu par, descansando no seu ombro durante a música, porque o pior já passou.

Vibrei neste casamento com a certeza de que me estava a ser dada a oportunidade de vivenciar uma daquelas vitórias que nos marcam e que nos fazem dizer com orgulho: “Eu estive lá! Vivi com a certeza de que tinha perdoado o mundo e que, afinal, a magia também acontece no mundo real.” Além disso, para que o dia fosse (ainda) mais inesquecível, conheci pessoalmente no casamento uma das primeiras carequinhas que me enviaram a sua história. Imaginam a emoção de estar pessoalmente com alguém que só conheço virtualmente? Imaginam o estranho e brutal que é vê-la ali, naquele contexto de celebração, de sorriso enorme, saudável e feliz? Nunca poderei esquecer este dia: neste casamento posso não ter abusado dos doces, mas servi-me sem vergonha e repetidamente de gratidão. Estiveram o dia todo a servi-la por todos nós. 

P.S. Sabem quem é que apanhou o buquê da noiva? Exatamente – um dia também terei o meu início de tudo.


Quando o cancro faz figura de otário porque o amor vence


Nunca me tinha arrebatado tanto ouvir as palavras “na saúde e na doença” e encontrar-lhes o maior significado. Deveria ser obrigatório que cada “cagaço” tivesse depois um resultado feliz.


Tenho um fraquinho por casórios. Sou demasiado suscetível a casamentos com significado, com pessoas que se amam, que se agarraram à vida, como os gatos se agarram aos sofás. Comove-me a entrega, comove-me a noiva, comove–me o pai da noiva, que confia, tremendo, que o genro saberá amar o seu tesouro, e comove-me o noivo, a quem não ligamos patavina. 

Comove-me o amor que, desconfio, tem sido o maestro da minha dança.

Este sábado estive no casamento de duas pessoas que são protagonistas de uma das histórias de vida mais bonitas que conheço. Sabem aquelas histórias que nos contavam, já deitados na cama, e que acabavam com o final “e foram felizes para sempre”? Esta é uma história ainda mais sublime do que essas que conhecemos de cor – porque não tem final. A Vanessa e o Filipe não deixaram que lhes fosse dado um final. 

A Vanessa namora com o Filipe “desde sempre”. Não é um daqueles “desde sempre” arrastados, já secos, sem paixão, de quem está por estar. É daqueles “desde sempre” porque nunca fez sentido de outra maneira. É daqueles “desde sempre” estampados com o símbolo do destino porque só poderia ser assim. E este sábado, o “desde sempre” transformou-se em “para sempre”.

Acho que eles não sabem disso, digo–lhes agora, mas inspirei-me muitas vezes neste amor para respirar melhor, quando o meu “para sempre” teve um fim. Acho que eles não sabem disso, mas eu também precisava que eles ficassem juntos. Bem sei que não tenho de querer nada, que a vida dos outros a mim não me diz respeito, mas era-me tão importante que o conto de fadas fosse tornado real. Era-me tão importante substituir as lágrimas de quem perde por aquelas que sabem a alegria e emoção (até nisso eles foram generosos porque distribuíram lenços aos convidados antes da cerimónia). Era--me tão importante presenciar o dia em que, depois de ambos terem cuidado um do outro porque os dois sobreviveram ao cancro, se viveu o “sim” que nos soube a nós, testemunhas daquele amor, como a resposta perfeita ao cancro:

“Perdeste, otário. O amor venceu.”

Nunca tinha estado num casamento de duas pessoas que conheci no Cancro com Humor. Nunca me tinha arrebatado tanto ouvir as palavras “na saúde e na doença” e encontrar-lhes o maior significado. Deveria ser sempre assim. Deveria ser obrigatório que cada “cagaço” tivesse depois um resultado feliz, que cada desafio fosse depois festejado debaixo de fogo-de-artifício, com fotografias e bolo de chocolate, que cada cuidador dançasse a valsa com o seu par, descansando no seu ombro durante a música, porque o pior já passou.

Vibrei neste casamento com a certeza de que me estava a ser dada a oportunidade de vivenciar uma daquelas vitórias que nos marcam e que nos fazem dizer com orgulho: “Eu estive lá! Vivi com a certeza de que tinha perdoado o mundo e que, afinal, a magia também acontece no mundo real.” Além disso, para que o dia fosse (ainda) mais inesquecível, conheci pessoalmente no casamento uma das primeiras carequinhas que me enviaram a sua história. Imaginam a emoção de estar pessoalmente com alguém que só conheço virtualmente? Imaginam o estranho e brutal que é vê-la ali, naquele contexto de celebração, de sorriso enorme, saudável e feliz? Nunca poderei esquecer este dia: neste casamento posso não ter abusado dos doces, mas servi-me sem vergonha e repetidamente de gratidão. Estiveram o dia todo a servi-la por todos nós. 

P.S. Sabem quem é que apanhou o buquê da noiva? Exatamente – um dia também terei o meu início de tudo.