Em 2011, entre as 60 escolhas disponíveis no draft da NBA, Enes Kanter foi o terceiro escolhido – um estatuto invejável para quem chegava ao principal campeonato de basquetebol do mundo vindo da sua natal Turquia, justificado já pelo facto de, dois anos antes, ter sido eleito o melhor jogador do Mundial de Sub-19.
Foi, por isso, com espanto que se observou a sua ausência na convocatória turca para o Europeu de 2015, quando Kanter já levava quatro anos na liga mais exigente do mundo. Espanto para todos menos para o próprio: “A razão que me excluiu foram os valores em que acredito e as minhas posições políticas”, afirmou para logo ser desmentido pelo selecionador. Kanter insistiu e chegou a publicar uma foto no Twitter onde outra estrela turca da NBA, Hidayet Turkoglu, aparecia lado a lado com o presidente Recep Erdogan. A legenda dizia: “É por isto que não sou convocado.”
Ao contrário de Turkoglu, Kanter não se presta aos serviços do homem que lidera a Turquia desde 2003. E não só não se presta como critica, quando vê razão para isso. Foi assim em junho de 2013, quando milhares de turcos se sujeitaram à violência policial para protestar contra um projeto urbanístico que ameaçava um dos parques mais emblemáticos de Istambul, o Gezi. E mais tarde no mesmo ano, quando foi revelado um escândalo de corrupção governamental, com escutas que incluíam o próprio Erdogan.
Tudo antes do Euro que se disputou sem Kanter, tal como os próximos Jogos Olímpicos – porque a estrela dos Oklahoma nem disputou a fase de qualificação e a Turquia não disputará a prova no Brasil. Por isso, foi também sem espanto que Kanter apareceu no Twitter, esta semana, para denunciar as ameaças de morte que tem recebido desde o golpe de Estado falhado de sexta-feira.
Mesmo sem dar opinião sobre o tema, os apoiantes de Erdogan não se esquecem de um só inimigo – mesmo que ele seja apenas um crítico.