Quando do encontro entre Portugal e a Hungria, escrevi neste espaço que o futebol não tem heróis nascidos das elites, tem homens que fogem à fome e à pobreza para se transformarem em estrelas maiores.
Correm pela bola para agarrar a vida. Por isso, quando vencem identificamo-nos com eles porque somos nós que também ganhamos.
Meninos de bairros pobres das periferias e das favelas construíram uma vida sabendo que, para eles, o golo era mais que a glória de um momento, também era o pão na mesa e o respeito no olhar.
Só o futebol tem esta capacidade de mobilização. O rosto desolado dos perdedores revelam a frustração e a dor que só nos aflora perante grandes desgraças, em contraste com a alegria da vitória que nos transforma em divinos.
O homem necessita de uma dimensão espiritual que encontra no futebol. Nada mais parecido a um rito religioso que as celebrações das vitórias, os cânticos, os gestos, os estádios transformados em catedrais, os seguidores, os símbolos, a elevação dos troféus evocam toda uma eucaristia, a da bola de futebol.
O futebol, linguagem universal, é hoje também uma religião de substituição. Quando Éder redentor lançou o seu meteoro, não foi só a arrogância francesa que desintegrou. No rasto luminoso que separava o espaço da glória, todo um povo se iluminou.
Éder, o homem que nunca foi menino, o que trocava golos por costeletas para comer, o gladiador da avó Ricardina mirradinha a sussurrar orgulho em Bissau.
Vinte e três homens vencedores, descendentes do infortúnio e do agoiro, netos de escravos, estão para lá das quatro linhas, estão para lá da dor, sobrevoam Paris em glória, e os Antónios e as Marias voam com eles a ver as voitures, os bâtiments, o Arc du Triomphe, e riem-se muito, felizes como gaiatos.
Foi sempre assim: em 1383, unidos pela nacionalidade; em 1640, pela independência; em 1910, no fim do absolutismo hereditário; em 1974, com os capitães pela liberdade, sempre os levantados do chão a resgatar o país e a carregá-lo para a frente. Sempre assim foi, a elite de um país é o seu povo.
Quais sanções e ameaças, quais vendedores de pátrias que prosperam favorecendo os que pilham nações soberanas. Portugal não se esboroa nem se esfuma, o país não se vende nem se rende.
Paris foi uma festa mesmo com a torre apagada de ressentimento e mesmo sabendo que nem todos os portugueses em França são concierges, nem todos os franceses são madame et monsieur, Pigalle que o diga.
Nenhum homem é ninguém. Uma democracia avançada cuida e responde a todos, tratando cada um de acordo com a sua especificidade.
A Europa do Renascimento, das Luzes, das revoluções pela igualdade evoluiu não em torno dos livros de contabilidade mas em volta dos livros de ideias. Permitimos que substituíssem políticos eleitos por funcionários burocratas contratados.
Nesta altura já não me apetece falar de Barroso, esse ser sem qualidades e, por isso mesmo, o mais indicado para contratado da Goldman Sachs, um banco que, de acordo com a comissão de investigação parlamentar dos EUA, é altamente suspeito de todo o tipo de irregularidades, tráficos e crimes.
Goldman que tem como presidente Lloyd Blankfein, acusado pelo “Independent” de ser um paramafioso, príncipe do capitalismo de casino, que se gaba de fazer o “trabalho de Deus” para os seus clientes.
Barroso move-se por interesses económicos bem definidos, tem uma moral tipo esponja que se adapta a cada circunstância e recebe agora o prémio de dez anos de inexistência útil como líder do órgão da União Europeia.
Durão Barroso é um ser viscoso, vive no lodo, é o seu habitat. Não é da nossa seleção.