David Cameron demitiu-se do cargo de primeiro-ministro depois de ver os britânicos escolherem, nas urnas, a saída da União Europeia. Como pedira o contrário anunciou a saída defendendo não ser o homem certo para liderar a nova etapa.
Iniciou-se então o processo de escolha do sucessor entre os conservadores, que ontem deram mais uma indicação de que a mais provável sucessora será outra defensora da permanência na UE. Mas Theresa May, a ministra do Interior que também foi derrotada no referendo, mostra-se decidida a cumprir a vontade dos eleitores.
Depois de ter causado polémica ao não garantir a continuidade no país dos atuais residentes oriundos da UE – por defender que essa medida depende da reciprocidade europeia em relação aos britânicos espalhados pelo continente – May disse ontem que é “uma mulher muito difícil, como Jean-Claude Juncker perceberá em breve”.
Foi um piscar de olhos ao eleitorado mais eurocético, pois será dele a palavra final na escolha do próximo primeiro-ministro.
Após duas votações, os 330 deputados conservadores limitaram a duas candidatas uma corrida que se iniciou a cinco – o que significa que pela primeira vez desde Margaret Thatcher o Reino Unido será governado por uma mulher e logo num momento de forte tensão com a Europa.
Ontem, May voltou a ser mais votada, tendo o segundo lugar de Andrea Leadsom determinado o afastamento de Michael Gove, o ministro da Justiça que se perfilava como favorito quando boicotou a candidatura de Boris Johnson. Mas agora a palavra passa para todos os militantes do partido, que participarão numa votação por voto por correspondência que se deverá realizar até setembro. E aí é provável que apareçam mais apoiantes de Leadsom, um acérrima defensora do Brexit que ontem afirmou “não ter gostado” da lei que permite o casamento entre homossexuais porque “afeta os cristãos”.
O medo do aparelho conservador face a uma candidata da ala dura com dotes populistas é tal, que a votação de ontem ficou marcada por um SMS enviado pelo chefe de campanha de Gove a todos os deputados. Nele, Nick Boles pedia aos deputados que já haviam declarado apoio a May para que votassem em Gove de forma a afastar Leadsom do voto final. Um gesto visto como uma afronta às bases do partido, que segundo Boles serão mais suscetíveis a ir na conversa. “Com Theresa May serei capaz de dormir descansado”, dizia na mensagem o homem que acabou o dia a pedir desculpa.