Virginia Raggi. “Está a começar uma nova era”
Aos 37 anos, Raggi salta do anonimato para se tornar a primeira mulher presidente da câmara da capital italiana
Virginia Raggi, 37 anos, é advogada e é a nova presidente da Câmara de Roma.
A candidata pelo Movimento 5 Estrelas (M5S) conseguiu derrotar – na primeira e na segunda volta – Roberto Giachetti, do Partido Democrático, a formação de centro-esquerda no poder. Raggi torna-se assim a primeira mulher a governar a capital italiana.
“Está a começar uma nova era”, disse Raggi após saber da vitória. “Vamos trabalhar para trazer de volta a legalidade e transparência às instituições desta cidade”, acrescentou.
Raggi salta assim do anonimato para se tornar um dos rostos mais conhecidos da política de Itália no espaço de apenas uns meses.
“Quero agradecer a todos os romanos que me confiaram este papel importante que vou assumir nos próximos cinco anos. Este é um momento histórico de mudanças fundamentais. Pela primeira vez Roma será governada por uma mulher”, afirmou a nova presidente da câmara.
Nascida em Roma, Raggi entrou na vida política há cinco anos convencida pelo discurso do M5S com o objetivo de acabar com os políticos tradicionais. Nessa altura, Raggi especializa-se em questões relacionadas com a educação e com o meio ambiente.
Apesar de durante a campanha Raggi não ter divulgado muitos detalhes sobre o seu, na altura, possível mandado, a advogada prometeu denunciar e acabar com a corrupção. “Se querem que fique tudo igual, votem neles”, chegou mesmo a dizer. Raggi promete então um mandado centrado no fim da corrupção e desonestidade na política, prometendo até cortar nos privilégios dos políticos e ajudar os pobres.
Acumulação de lixo, transportes públicos inseguros e estacionamento ilegal também vão acabar, prometeu. “A nossa visão passa por criar uma cidade viável, algo que não é neste momento”, disse Raggi.
A advogada defende ainda a igualdade entre homens e mulheres e controlo quanto à crise migratória.
Chiara Appendino. A surpresa da segunda volta
Appendino perdeu a primeira volta. Na segunda roubou ao adversário os mais de 10% que os separavam. É a nova presidente da câmara de Turim
Chiara Appendino, de 31 anos, é a maior surpresa da segunda volta das municipais em Turim, que decorreram no passado domingo.
Na primeira volta, ainda que sem maioria absoluta, a vitória pertenceu ao Partido Democrático. E, sem que nada o fizesse prever, na segunda volta, Appendino, do Movimento 5 Estrelas, conseguiu “roubar” ao adversário Piero Fassino os 10 pontos percentuais que os separavam, tornando-se assim presidente da câmara de Turim.
“Tem sido uma longa jornada e finalmente a nossa hora chegou. Temos a possibilidade de construir uma nova comunidade urbana, mas acima de tudo temos o dever de curar uma cidade que tem sido profundamente ferida”, disse Appendino no seu discurso de vitória.
Appendino prometeu lutar contra a construção de uma linha ferroviária de alta velocidade entre a capital do Piemont e Lyon, em França.
Uma das suas principais prioridades é promover a integração dos jovens na indústria e artesanato, incluindo também a criação de fundos especiais através de uma redução de 30% nas despesas da política local. Durante a sua campanha eleitoral prometeu não fazer promessas que mais tarde não pudesse cumprir.
Formou-se em Economia na Universidade de Bocconi, em Milão e antes de entrar para a política trabalhou na Juventus na área do planeamento financeiro do clube.
Foi no ano de 2010 que Appendino se juntou ao Movimento 5 Estrelas, um ano depois da sua formação. Mais tarde, em maio de 2011 foi eleita vereadora e foi nesta altura que, segundo a imprensa italiana, começou a ganhar o carinho do público.
A vitória de Appendino foi um choque para o adversário Fassino. “Não precisamos de uma Joana D’Arc da moralidade pública”, dizia antes da segunda volta. Contudo, a “Joana D’Arc” ganhou e a sua vitória foi muito bem recebida.
Fassino já justificou a derrota dizendo que o M5S só ganhou porque conseguiu garantir o apoio da direita.
O que é o Movimento 5 Estrelas?
O Movimento 5 Estrelas foi criado há sete anos, em 2009, pelo humorista Beppe Grillo e pelo especialista em informática Gianroberto Casaleggio. A ideia surge depois de, em 2007, Grillo ter levado a cabo várias manifestações contra a classe política.
Programa
O Movimento 5 Estrelas propõe uma série de variadas medidas. Entre elas estão a criação de um novo salário mínimo, a realização de um referendo para sair da zona euro, adoção de medidas contra a corrupção, estímulo económico às pequenas e médias empresas e redução do salário dos políticos.
Para este movimento há 5 pontos-chave: água pública, transportes sustentáveis, desenvolvimento sustentável, direito ao acesso à internet e ambiente.
Eleições
Os resultados do Movimento 5 Estrelas nas eleições não têm sido maus. Em 2013, o M5S conseguiu bons resultados ao conquistar 25% dos votos nas legislativas. A partir dessa altura, as vitórias têm aumentado e confirmou-se esta semana o favoritismo dos italianos.
Nem à esquerda nem à direita À semelhança de outros novos partidos europeus, o M5S evita ser ideologicamente catalogado segundo os padrões tradicionais.
E se há casos em que pode aproximar-se do Podemos espanhol ou do Syriza, na Grécia, o M5S não se associa à esquerda. Em maio deste ano, no último minuto, não votaram a favor da união civil entre casais homossexuais – apoiada por 80% dos militantes – para não se aliar ao governo de centro-esquerda.