Há já uns bons 10 anos que não vinha a Londres. Sabia que não me fascinava e sabia porquê, mas já não me lembrava. Não me diz absolutamente nada. Acho bonita mas suja. Demasiada confusão, uma fauna indiscritível e uma população autóctone em vias de extinção! O tempo instável e imprevisível que baralha a indumentária, e um rol de tantos outros defeitos que podia aqui despejar. Por outro lado o sobrevivente inglês de Londres (no sentido dos poucos que restam) é afável, simpático e conversador. E tirei partido disso.
O mais interessante acabou por ser um taxista. Um tipo simpático e curioso, genuinamente britânico. Sem surpresa o tema descambou para o referendo! Partilhávamos uma antipatia comum (Boris Johnson – sobre quem aqui já escrevi). Não compreendia a Europa. Tinha a ideia pré-concebida de que uns pagam, os outros beneficiam. Ao descobrir que era português, levantou um pouco o véu da sua indiferença perante a Europa e atirou: “Portugal is receiving loads of money from the EU right?” Era a minha deixa! Todos contribuímos. Uns mais do que outros (claro), da mesma forma que os contribuintes que ganham mais são mais taxados, mas o saldo final não era assim tão mau como ele pensava! Ficou intrigado.
Mas como é que os que pagam mais têm o seu retorno? Dei o exemplo clássico português: recebemos “pipas” de dinheiro! Para limitar produções agrícolas, reduzir quotas de pescas, construir estradas, hospitais e infraestruturas várias. Então mas isso é bom para Portugal! Receber tanto dinheiro e pagar pouco… E lá está, Inglaterra paga e não recebe – contrapunha ele.
Não! Errado! Afirmava eu enquanto a sua cara se transformava em espanto e indignação! Não, porque as limitações de produção e captura obrigam-nos a comprar fora o que produzíamos. Não, porque nas estradas que se construíram circulam os carros produzidos na Europa, subsidiados a juros baixíssimos e, nos hospitais e restantes infraestruturas, a maquinaria instalada não é portuguesa. Depois de uns segundos em silêncio e com ar apreensivo respondeu – “Hum… I see! The Germans did it again!” Sorri, e ao deixar o táxi dei-lhe razão – “Well maybe you’re right after all. The return to UK is not that much”.
Sabemos que não é bem assim! E que grande parte das exportações inglesas são para a Europa, e que a sua saída vai condicionar essas mesmas exportações. Não fiquei a perceber se vai votar, nem tão pouco se é a favor ou não do Brexit. Mas o mito das vacas sagradas do sul da Europa que só recebem e não dão nada em troca foi destruído. E, para mim, é bom que não nos esqueçamos disso da próxima vez que nos tentarem pôr o pé em cima.