O Parlamento Europeu vai “acolher” mais um crítico de António Costa. Já a partir de meados deste mês, Manuel dos Santos passa a ocupar a vaga deixada por Elisa Ferreira, nomeada vogal do Banco de Portugal. Na lista do PS que concorreu à europeias de 2014, o ex-deputado e antigo secretário de Estado do Comércio de António Guterres é o senhor que se segue.
Em declarações ao i, o homem que agora se movimentará entre Bruxelas e Estrasburgo, assumiu no passado fim de semana que tinha esta chegada à Europa “atravessada na garganta”.
“Não fui eleito em 2014 por 500 votos, que foram para o Marinho Pinto, isto porque havia mais de 500 socialistas que queriam lixar o António José Seguro”, afirmou em declarações ao i à margem do XXI congresso do PS.
O ex-deputado e antigo secretário de Estado do Comércio no governo de António Guterres. assumiu, contudo, que vai abandonar a vida política “daqui a três anos”.
A partir de 15 de junho, desencadeia-se o processo de substituição, que é rápido. Manuel dos Santos será reconhecido como deputado europeu, uma espécie de cerimónia de posse, no plenário de 3 de julho em Estrasburgo. Mas a partir de meio da próxima semana poderá participar já em actividades como parlamentar. Segundo informações que já recolheu, o economista e futuro eurodeputado adiantou que poderá integrar a comissão eventual que vai tratar dos “Panamá papers e offshores”, disse ao i.
Dos oito eurodeputados eleitos pelos socialistas, numa lista que remonta à direcção do anterior secretário-geral António José Seguro, dois são claramente contra a solução António Costa: Francisco Assis e, a partir deste mês, Manuel dos Santos. A estes pode juntar-se ainda a eurodeputada Ana Gomes, que tem sido incómoda para várias direcções socialistas – Sócrates com os voos da CIA e Costa com as posições críticas perante o governo de José Eduardo dos Santos em Angola.
O ‘sótão’ de Costa. O PE pode assim tornar-se numa espécie de “sótão” da contestação a António Costa. Não tem, à partida, entre os seus potenciais frequentadores, o peso das reuniões “clandestinas” que juntaram debaixo do tecto de uma casa de Guterres, em Algés, entre o final dos anos 70 e o princípio dos anos 80, nomes como Jorge Sampaio e Vítor Constâncio na contestação ao então secretário-geral Mário Soares. Foi, todavia, deste grupo que saíram três secretários gerais dos socialistas. Por esta ordem, sucederam a Mário Soares, já então no Palácio de Belém, Vítor Constâncio, Jorge Sampaio e António Guterres. O chamado grupo do “sótão” incluía ainda nomes como Salgado Zenha (que defrontou Soares nas presidenciais de 1985), António Arnaut e Arons de Carvalho.
A partir de meados deste mês, em Estrasburgo, vão sentar-se em nome do PS, Ana Gomes, Maria João Rodrigues, Liliana Rodrigues, Francisco Assis, Manuel dos Santos, Carlos Zorrinho, Pedro Silva Pereira e Ricardo Simão Santos.
A notoriedade está, sobretudo, centrada em Assis, o homem que recusou integrar no congresso do passado fim-de-semana qualquer lugar nos órgãos de direcção, a exemplo do que já tinha feito quando António Costa assumiu as rédeas do PS a seguir ao confronto que afastou António José Seguro.
Assim, mantém-se distante da linha escolhida por Costa para chegar à liderança e para construir a alternativa de poder à antiga maioria PSD/CDS e, consequentemente, mais livre para criticar o governo e o partido quando o entender.
* com Ana Sá Lopes