Somos todos poros na pele de Flume

Somos todos poros na pele de Flume


Segundo disco, a fatídica prova dos nove, que Harley Streten passa com distinção. Falámos com o produtor sobre “Skin” e sobre o quão secante pode ser entregar jornais porta a porta


Já tínhamos reparado no que Flume fazia com as laranjas. E, sem querer roubar o prestígio ao monstro dos Choco Flakes,  – esse devorador de cereais que pergunta a um espremedor se consegue tirar o leite das vacas, a fim de encher a sua tigela – cabe-nos entregar os louros ao pai de Harley Streten. Foi esse senhor que se apercebeu do gosto do filho pela música eletrónica, por pressionar botões, por produzir efeitos, e que por isso o incentivou a transformar uma caixa de cereais numa mesa de produção artesanal. Flume tinha 14 anos e era moço de entregar jornais porta a porta. “Era profundamente aborrecido, no percurso de bicicleta ia sonhando de olhos abertos, em como seria não estar a entregar jornais. Tive a sorte de cedo perceber o que queria para mim. A música começou por ser um hobby até ter feito uma tour nacional e me ter apercebido que podia ganhar dinheiro com isto”, conta-nos, por telefone num sotaque que para australiano está bem percetível. Este canguru de 24 anos acaba de dar o seu segundo salto, depois da estreia com um disco homónimo em 2012 – onde todos ficámos a perceber que Flume é flor que se cheire –  um EP com Chet Faker e uma série de remixes e de colaborações que fazem deste rapaz um nome obrigatório da música eletrónica. “Skin” acaba de aterrar nas lojas e, desta vez, o jornal já não foi entregue pelo próprio.

Nesta lógica do-it-yourself, de experimentação, um batalhão de papéis de rascunho a encher o lixo, o australiano foi evoluindo até ser recrutado pela Future Classic, selo pelo qual ainda edita.

“Skin” é não mais que a sua autorização para comprar tabaco e não mostrar bilhete de identidade à porta de discotecas, o segundo disco será sempre a maioridade na indústria musical, ou não diria que “foi incrível tirá-lo do peito”, antes de acrescentar, já sem rir: “Admito que senti pressão mas agora as pessoas têm falado bem do disco, toda a gente tem uma faixa favorita diferente, isso só pode ser bom sinal”.

16 temas, 11 colaborações e um areal a perder de vista, pelo menos a julgar pela sua abrangência, por tanto fazer uma faixa com Vince Staples ou Vic Mensa, nessa lógica hip-hop de que tanto gosta, como se desdobrar com Beck, Little Dragon ou AlunaGeorge, num registo mais íntimo, de ser caseiro porque nem só em festa se pode estar bem. “Sim, fui muito ambicioso com este disco. Tentei forçar as minhas habilidades técnicas de forma a perceber até onde conseguia ir, queria experimentar algumas ideias de faixas obscuras, quase um experimentalismo negro, mas queria isso como queria sons mais ambientais, músicas para tocar em festivais. No fundo, queria variedade”, confessa.