Nicolás Maduro “não será afastado em referendo porque não haverá nenhum referendo”. A frase, dita ontem pelo vice-presidente da Venezuela, Aristóbulo Istúriz, representa “a quarta figura do regime a dizer que não haverá referendo”, lembrou de seguida Henry Ramos Allup, o homem que lidera a Assembleia Nacional (AN) desde que a oposição alcançou esmagadora vitória nas urnas, em dezembro.
A Constituição exigia aos opositores a recolha de 195 mil assinaturas para dar início ao processo de convocatória de um referendo revogatório, mas nem o facto de ter juntado em poucos dias mais de 1,85 milhões de venezuelanos garante o sucesso da iniciativa.
Com o movimento opositor a superar sucessivamente as barreiras de última hora criadas pelo Conselho Nacional Eleitoral, a cúpula do regime viu-se obrigada a uma intervenção mais direta. E se quatro dos principais conselheiros assumem abertamente a oposição ao jogo democrático, o próprio presidente foi mais longe ao decretar um estado de emergência de 60 dias contra a “agressão externa”.
E perante uma novidade de consequências não previsíveis – pois o presidente decretou um estado de emergência económica que teria de ser aprovado na AN, onde manda a oposição -, Maduro explica que esse mecanismo lhe “dará poderes suficientes para derrubar o golpe de Estado, a guerra económica, para estabilizar socialmente o país e para enfrentar todas as ameaças internacionais e nacionais que existem na pátria neste momento”.
Num país em estado de sítio – onde uma crise económica que leva à escassez de bens essenciais e ao aumento da violência é agravada pela escassez de energia provocada pela mais grave seca dos últimos 60 anos -, Maduro insiste na teoria de uma guerra económica com os yankees de Washington.
Mas a oposição, que em dezembro alcançou uma maioria de dois terços na AN, insiste no “respeito à Constituição e no cumprimento do regulamento revogatório”. Quem o disse, ao anunciar uma manifestação nacional para quarta-feira, foi Henrique Capriles, o governador do estado de Miranda que foi derrotado por Maduro nas presidenciais de 2013 por 50,6% contra 49,1%.