O exército turco, apoiado pela força aérea da coligação liderada pelos Estados Unidos, atingiu ontem um grupo de militantes do Estado Islâmico que se preparava para novo lançamento de rockets para território turco. Pelo menos 27 islamistas morreram e outros sete foram detidos na operação em Elazig.
Os detidos incluem um homem descrito pelas autoridades turcas como um “executor”, por lhe serem atribuídos vários assassínios seletivos na guerra civil síria. Foi o segundo dia de operações na área, já que, no domingo, os bombardeamentos da coligação tinham destruído cinco postos fortificados de defesa das posições do Daesh.
As operações decorrem junto à fronteira com a Turquia, numa região que nos últimos meses tem feito chegar o conflito sírio a território turco. A pequena cidade de Kilis, que a Reuters recorda ter sido “um abrigo seguro para refugiados sírios” no início do conflito, vive agora em cenário de guerra, com rockets a atingirem residências e estabelecimentos comerciais.
São já mais de 20 as vítimas mortais contabilizadas na cidade, que terá sido atingida por cerca de 70 rockets desde o início do ano. Após um dos últimos ataques contra Kilis, que matou uma pessoa e feriu mais de 20, a população revoltou-se – não contra os atacantes islâmicos, mas sim contra o governo de Ancara, a quem há meses são exigidas medidas para a defesa do território junto à fronteira com a Síria.
Erdogan previne-se Mas na capital, as prioridades do presidente Recep Erdogan continuam a ser outras. Depois de ter sido o principal responsável pelo afastamento do primeiro-ministro Ahmet Davutoglu, do seu próprio partido, e sempre com a mira no objetivo final de alterar a Constituição para reforçar os poderes presidenciais, Erdogan voltou a estar no centro da polémica durante o fim de semana – desta vez acusado de ser o responsável pela decisão dos tribunais de cancelar o congresso de um partido da oposição.
Trata-se do Partido do Movimento Nacionalista (MHP) que, apesar de opositor, é próximo o suficiente do regime para poder permitir a Erdogan os votos parlamentares necessários para aprovar uma mudança constitucional. O veterano Devlet Bahceli, que ocupa a liderança do MHP há duas décadas, está a ser fortemente contestado por centenas de militantes.
Mas o seu afastamento está dependente de um congresso que esteve agendado para este domingo, apesar da resistência de Bahceli. Até que os tribunais – há muito controlados pelo AKP de Erdogan – decidiram proibir a sua realização. “Foi uma intervenção direta do AKP e do governo num congresso do MHP. E é inaceitável”, escreveram quatro líderes da revolta nacionalista, acusando o presidente pela decisão dos juízes.
Meral Aksener, antiga ministra do Interior que as sondagens dizem poder duplicar os resultados alcançados por Bahceli com o MHP, garante que foi Erdogan a bloquear o congresso, pois sabe que a nova liderança jamais lhe daria os votos do MHP para a alteração constitucional.
Os 543 dissidentes insistiram na realização do encontro. Primeiro através de tribunais, tendo até recebido autorização que viria logo a ser bloqueada por outro juiz de instância superior. Mas no domingo, os 543 signatários da convocatória do congresso extraordinário foram recebidos por centenas de polícias que guardavam a porta do hotel para onde este estava agendado.