André da Loba. A maneira certa de lançar uma pedra ao charco

André da Loba. A maneira certa de lançar uma pedra ao charco


Exposição que é inaugurada hoje na Underdogs é a estreia do ilustrador num novo território. Dos livros e do trabalho editorial para as telas. Já é arte assim?


Uma pedrada nos cornos que nos dá ainda assim a vantagem de podermos escolher onde a queremos levar. E que não é exagero, foi mesmo o ponto de partida para “A Pedra e o Charco”, exposição individual de André da Loba que é inaugurada hoje e pode ser vista até 18 de junho na Underdogs, em Lisboa.

Território estranho para o reconhecido ilustrador português, que depois de anos a viver em Nova Iorque se sente de novo estrangeiro, mas no seu próprio país. “Quando estás no estrangeiro podes ser quem quiseres, não está lá ninguém para te dizer que eras diferente há, sei lá, dois meses. Deves tentar outras maneiras de estar e de perceber o mundo, dá–te perspetiva. Agora sinto-me como um estrangeiro porque tive de voltar a redefinir-me.” Coisa que aconteceu também com esta exposição, já por si uma pedrada no charco, território novo, como dizíamos, para André da Loba, conhecido pelos seus livros e trabalho editorial (publicou no “New York Times”, “Washington Post”, “Time”, a lista é comprida) e que nunca antes se tinha apresentado em telas – muito menos em esculturas, neste caso produzidas por impressoras 3D, como serigrafias a três dimensões.

“Mudando o suporte, o que faço passa a ser arte?”, questiona o ilustrador e designer, que nunca tinha exposto numa galeria com a dimensão da Underdogs. “Não sei bem o que estou a fazer, se isto é arte, se é ilustração, se é uma banda desenhada porque isto podem ser vinhetas de uma banda desenhada. A ideia é questionar estas fronteiras, que acho que normalmente são limitadoras. Por isso vou questionando, mandando as pedras. Vocês agora façam as ondas que quiserem.”

E isto pode ser mesmo uma banda desenhada, se assim quisermos olhar para esta composição de dezenas de telas feitas em stencil (que quem as comprar levará também para casa) que encontramos por uma ordem mas que, na verdade, podiam estar noutra qualquer. Com base em cinco cores – rosa, verde, amarelo, azul e lilás -, constroem elas próprias percursos individuais dentro da exposição. “Isto são bairrinhos e tu podes atravessá-los com a linha verde ou com a linha cor-de-rosa, porque todos os elementos verdes e cor-de-rosa fazem também uma história, há um movimento estético”, explica André da Loba, que não quis pôr aqui nenhum título além do da exposição, “feita sem grande roteiro, sem texto”, coisa que não será novidade para quem conhecer os seus livros.

“O que quero é que quando vês as ilustrações as aumentes em vez de as fechares. Podia dar-te um título para todas elas, mas isso seria estar a desvirtuar o conceito da exposição. Tens o lago, eu dou-te as pedrinhas e, já que estamos aqui, ‘bora mandar pedras ao charco.”