1) Embora seja baixa, Catarina Martins é grande em influência. Não há semana em que não marque a agenda com o seu carimbo, impondo à sociedade e sobretudo ao PS os temas que muito bem lhe apetece, a ela e ao seu Bloco (BE). A coleção de exigências é tão vasta que não há espaço aqui para uma enumeração, mesmo sumária, dos temas que Catarina vai exigindo que sejam tratados e depressa.
A questão até não está em saber se as exigências estão certas ou erradas. Muitas são justíssimas e qualquer ser humano de bom senso as subscreve. No entanto, o que Catarina Martins faz é pura e simplesmente encostar o PS às cordas, utilizando um método que não anda longe da chantagem política.
Se é assim agora, o que será depois da próxima convenção que entronizará Catarina como czarina do BE, deixando o regime de corregência em que o partido decidiu viver para não se desfazer. Com a chegada à orla do poder, as divergências atenuaram-se naturalmente. Resolvida a questão interna, a influência de Catarina tenderá a crescer, num esticar de corda para o qual António Costa tem mostrado uma paciência de santo, apesar de ser coisa que não é. Às exigências muitas vezes fraturantes e antieuropeias desta verdadeira vice-primeira-ministra informal, António Costa junta ainda uma pressão constante, embora menos emotiva e mais racional, do PCP e dos sindicatos da CGTP.
Para além da santa paciência e da invulgar argúcia política, têm valido a António Costa basicamente duas coisas. Em primeiro lugar, a confiança do Presidente Marcelo, que se empenha quotidianamente para que as cordas não rebentem já, o que geraria uma crise política gravíssima numa altura em que a economia está fragilizada devido ao contexto internacional negativo, agravado em Portugal pelas crises brasileira, angolana e moçambicana. Em segundo lugar, Costa beneficia claramente da circunstância de a oposição de direita estar sem projeto, ou melhor, manter o mesmo que teve com Passos e Portas e que não resolveu os problemas estruturais do país, nomeadamente o da banca, essencial para que houvesse uma retoma sustentada.
Perante esta realidade, o líder socialista tem ganho tempo e melhorado a sua imagem, tentando gerir as coisas porventura até às autárquicas de 2017, que são a pedra-de-toque de toda a política, se não houver um colapso governativo até lá. Essa hipótese não é, porém, de excluir face às tensões da aliança de esquerda e à ofensiva que a Europa está a desenvolver contra Portugal, Espanha, Itália e Grécia, agora que a Irlanda está mesmo relançada. Dos países mais a sul escapa a França do pedido de sanções, apesar da sua lamentável prestação. É a inércia da suposta “grandeur”.
Com tudo isto, verifica-se que o PS de Costa, apesar de estar sozinho no governo, não consegue desenvolver um programa que efetivamente lhe pertença. Percebia-se se estivesse em verdadeira coligação, mas assim está-se perante uma excessiva dependência, ora do BE, ora do setor comunista, ora da influência presidencial, ora da área neoliberal da União Europeia. E acontece que, normalmente, um governo que navega à bolina e em mudança de rota permanente em função dos ventos tem sempre muita dificuldade em levar a bom porto os seus passageiros, que neste caso são todos os portugueses. Uma coisa é certa: era bom que conseguisse mas, como diz a canção, “o mar está bravo, Toino”.
2) Os países são como as pessoas e alguns clubes que nos irritam especialmente. É o caso da Finlândia, um pequeno Estado que nem sequer se percebe muito bem por que razão existe. Pois bem, os tais finlandeses, que foram dos mais duros a exigir medidas severas contra os preguiçosos do Sul, os PIGS (Portugal, Itália, Grécia e Espanha/Spain), estão, por sua vez, a atravessar graves dificuldades. Enfrentam até a imposição de eventuais medidas de austeridade do tipo das que nós levámos no lombo. A Finlândia perdeu a Nokia, que era a sua bananeira, perdeu a criatividade dos videojogos e a indústria da pasta de papel foi-se abaixo das canetas por causa dos iPads, telemóveis de ecrã e quejandos. Agora, por lá, fala-se em sair do euro, copiando a Suécia, que nunca entrou e cresceu imenso. Esperemos que, se precisarem de nós para alguma coisa (como no aconchego que lhes demos na ii Guerra Mundial,) haja quem não deixe de lhes recordar a bestialidade de que deram mostras ao destratarem os povos do Sul, bem mais antigos e importantes para a humanidade. Isto, claro, sem embargo de lhes darmos o apoio de que precisem porque somos diferentes, como diria Rui Vitória.
Jornalista