“Mais uma empresa ilegal para levar aos tribunais.” É desta forma que Florêncio Plácido de Almeida, presidente da Associação Nacional dos Transportadores Rodoviários em Automóveis Ligeiros (ANTRAL), reage ao aparecimento da Cabify, empresa que presta serviços de transporte privado através de aplicações informáticas para dispositivos móveis e que desde ontem começou a operar em Lisboa. “Vamos avançar muito em breve com uma providência cautelar sobre a empresa e só não o fizemos antes porque tivemos de esperar que iniciasse a atividade”, garante o responsável ao i.
A ideia, de acordo com o responsável, é seguir o exemplo do que já foi aplicado à concorrente Uber. Em abril de 2015, a ANTRAL interpôs uma providência cautelar para impedir a plataforma de operar. A providência foi aceite pelo Tribunal da Comarca de Lisboa, mas a empresa manteve os serviços UberX e UberBlack ativos porque alega que a providência foi dirigida à entidade jurídica errada (a notificação refere a Uber Technologies, nos EUA, quando a delegação portuguesa responde à sede da Uber na Holanda).
Florêncio Plácido de Almeida diz ainda que está a aguardar as conclusões do grupo de trabalho com o governo. Porém, se as negociações não chegarem a bom porto, ameaça com uma nova paralisação, mas com maiores dimensões do que esta última, que se realizou a 29 de abril. “Estamos a privilegiar o diálogo. O grupo de trabalho tem 60 dias para apresentar uma conclusão. Se não chegar, a próxima paralisação não vai ser só de um dia” acrescenta.
Ainda assim, o presidente da ANTRAL acredita que depois destas ainda vão aparecer novas empresas e a resposta será sempre a mesma: providência cautelar. “Vamos seguir os parâmetros legais, que é aquilo que nos compete fazer. Ainda vão aparecer outras, mas vamos sempre contestar porque são ilegais e não cumprem a lei portuguesa”, refere.
Nova empresa Apesar de todos os protestos do setor, a Cabify admite que está empenhada em falar com o governo e com os taxistas. “Queremos dialogar para trazer novos serviços para os clientes”, revelou Nuno Santos, general manager da Cabify, durante a apresentação da nova empresa, garantindo ainda que “atua em conformidade com a legislação em vigor em todos os mercados onde se encontra”.
Para já, o responsável não se mostra intimidado com todo este descontentamento e diz que já foram estabelecidos vários contactos com os agentes do setor. “Estamos empenhados em encontrar uma solução com os players do mercado”, salienta.
A concorrente da Uber vai funcionar apenas em Lisboa e com um único serviço, o Lite. No entanto, a empresa quer alargar o número de serviços, mas está dependente da recetividade do público. Também está previsto o alargamento a outras cidades, nomeadamente o Porto, mas a médio prazo.
O processo de recrutamento em Portugal já arrancou há cerca de um mês, mas Nuno Santos não quis adiantar o número de motoristas com que já conta nem o número de parcerias que já foram feitas. “Recebemos um elevado número de candidaturas”, mas não diz se nesse número estão incluídas candidaturas de taxistas. Contudo, deixa uma garantia: a Cabify trabalha com “motoristas certificados, com revisão de antecedentes, provas psicológicas e testes toxicológicos”, e que vão ser “permanentemente avaliados”.
Tal como acontece com a Uber, também a Cabify vai estabelecer parcerias com as empresas de rent-a-car e de transporte de turistas. Segundo Nuno Santos, os veículos cumprem todos os requisitos técnicos e funcionais para operar e os utilizadores “estão sempre protegidos através dos seguros de responsabilidade civil e de proteção de ocupantes, de responsabilidade civil de exploração e de acidentes pessoais”.
Custos O preço da viagem é pago ao quilómetro, independentemente do tempo de viagem, e já está tabelado: 1,12 euros por quilómetro, e o preço mínimo é 3,50 euros. Também neste serviço o dinheiro está excluído como meio de pagamento. A viagem é paga com cartão de crédito ou através de uma conta PayPal.
A plataforma vai também disponibilizar uma oferta destinada a empresas, um “serviço personalizado sem custos de manutenção ou fidelização, durante 24 horas por dia, sete dias por semana”, assegura a companhia espanhola. Ao mesmo tempo, destaca outras vantagens. “Permite uma verdadeira poupança porque é uma plataforma que combate 100% a fraude, focada na gestão de economia de custos e gestão do tempo, e possibilita um grande controlo porque permite aos colaboradores fazerem diferentes opções por tipo de veículos, horários e localização geográfica”.
Funcionamento Uma outra novidade diz respeito à possibilidade de se fazer reserva antecipadamente de um serviço, incluindo nos arredores de Lisboa.
Mas como funciona? O utilizador pede um serviço escolhendo o ponto de origem – ou reservando-o para a hora a que precisa –, escolhe o tipo de veículo e introduz o ponto de destino, e a aplicação escolhe aquela que considera ser “a rota ótima”. Logo no momento, o utilizador fica a saber em quanto lhe fica a viagem, independentemente do tempo que ela demore.
A Cabify está presente em seis países e 16 cidades, contando com 300 profissionais. Portugal é o primeiro país de língua oficial não castelhana a contar com esta mobilidade. De acordo com as contas de Nuno Santos, “o negócio tem crescido de forma contínua e a procura dos serviços da empresa multiplicou-se por 10 em 2014, mantendo este ritmo de crescimento em 2015”.
A empresa prevê uma faturação em 2016 de 100 milhões de euros, não tendo sido revelado qual poderá ser o contributo dado pelas operações em mercado nacional.