Espanholização da banca. Quota atinge 30% mas produtos são pouco competitivos

Espanholização da banca. Quota atinge 30% mas produtos são pouco competitivos


Estudo a que o i teve acesso diz que não existe espanholização da banca, mas sim franconização porque o crédito está nas mãos de quatro bancos de capital francês. 


Falta de competitividade da banca nacional leva a este aumento da presença de capital tanto francês como espanhol.

Os quatro grandes bancos de capital espanhol a operar em Portugal já atingem uma quota de mercado no valor de 30,5%. Os dados foram revelados ao i pelo site ComparaJá.pt, plataforma gratuita de simulação financeira. A posição tem vindo a ser reforçada nos últimos meses, depois de o Santander ter comprado o Banif e de o Bankinter ter adquirido o Barclays. A somar a estes há que contar ainda com os espanhóis do CaixaBank, que detêm o controlo do BPI.

Daí 51 personalidades terem criado o grupo de reflexão para a reconfiguração da banca em Portugal e quererem fazer chegar o manifesto contra a “espanholização da banca” a Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa.

Banca nacional menos competitiva Mas o que têm os bancos espanhóis que os outros não têm? De acordo com o estudo, não se pode falar de uma espanholização da banca quando as instituições espanholas não prevalecem em qualquer dos produtos analisados – depósitos a prazo, cartões de crédito e crédito pessoal. O que existe em Portugal é uma “franconização” do crédito pessoal, pois são quatro instituições de capital francês – Oney, Credibom, Cetelem e Cofidis – que detêm mais de metade da quota de mercado.

Além disso, estes quatro players de capital francês têm parcerias com grandes retalhistas, como a Fnac, IKEA ou Leroy Merlin, o que lhes “possibilita um claro domínio do crédito ao consumo no nosso país”, afirma ao i Sérgio Pereira, diretor–geral da plataforma. Por isso, o responsável não percebe “por que razão a ‘franconização’ nunca suscitou a mesma atenção”.

No seu entender, a presença de determinado país no setor bancário português, à semelhança de tantos outros setores, não é obrigatoriamente negativa, já que os consumidores nacionais saem beneficiados, pois conseguem melhores ofertas fruto da competitividade existente no mercado.

Sérgio Pereira admite, no entanto, que as instituições estrangeiras, muitas delas francesas ou espanholas, enviam os lucros para as suas casas-mãe, não sendo diretamente reinvestidos em Portugal, o que é menos positivo para a economia. Mas isso deve-se, segundo o responsável, à falta de inovação por parte das instituições portuguesas que abriu caminho para que players estrangeiros captassem uma quota de mercado bastante grande num curto espaço de tempo.

De acordo com Sérgio Pereira, a tendência é para se manter, já que “tudo aponta para que [estas instituições]continuem a aumentar as suas quotas de mercado, visto estarem constantemente a apresentar produtos e processos mais inovadores do que a oferta nacional”, conclui o diretor-geral do comparador gratuito de produtos financeiros.

Raio-X O site ComparaJá.pt analisou as propostas dos quatros bancos espanhóis presentes no mercado nacional nas componentes de depósitos a prazo, cartões de crédito e crédito pessoal (ver gráficos ao lado).

No caso dos depósitos a prazo, a plataforma garante que, “na generalidade, a oferta dos bancos espanhóis no que diz respeito aos depósitos a prazo não procura atrair depósitos avultados. Estes bancos têm procurado apostar, neste âmbito, em produtos com pouca rentabilidade mas de fácil acessibilidade a quem procurar investir montantes pequenos”.

De acordo com o estudo, “apesar de ter um leque de produtos muito diversificados, ao oferecer rentabilidades pouco atrativas, depreende-se que o BPI não se tem focado em atrair novos depósitos. Três dos seus nove produtos remuneram a uma taxa de 0,00%. De resto, o depósito a prazo mais atrativo em termos de TANB é o Depósito a Prazo Especial 1 ano com uma remuneração de 0,75%”. Mas acrescenta que “a condicionante é que o depósito deve ser feito em dólares. Se o cliente optar por abrir um depósito a prazo em euros, será remunerado a 0,00%”.

Mais atrativo é o produto disponibilizado pelo Bankinter, o que é visto por Sérgio Pereira “como uma estratégia para captar clientes, já que é um novo player no mercado”. Ainda assim, o responsável garante que neste campo “não se verifica uma espanholização” e os produtos mais atrativos são oferecidos por instituições com outras nacionalidades: uma de Angola, outra de Portugal e outra de capital ucraniano.

Crédito Também no que diz respeito aos cartões de crédito, mais uma vez, a preferência não recai nos bancos de capital espanhol. “Considerando as ofertas mais atrativas no mercado, conclui-se que as ofertas das instituições espanholas não se destacam face à concorrência. Na verdade, as suas enquadram-se no que é oferecido no segmento médio da concorrência, não entrando no segmento mais competitivo por pedirem, na sua maioria, anuidades nos cartões”, salienta o estudo.

De acordo com o site, existe uma empresa do Reino Unido (Barclaycard), outra de França (Cetelem) e dois cartões de duas instituições portuguesas que apresentam condições e vantagens potencialmente mais atraentes para os consumidores.

O cenário de falta de competitividade repete-se no segmento do crédito pessoal. Também neste mercado existem ofertas mais apelativas do que as dos quatro bancos espanhóis, as quais se inserem na oferta média do mercado. E o estudo dá como exemplo a oferta da Credibom, da Oney e da Cofidis, que apresentam uma TAEG (taxa anual efetiva global) de 10,62%, 10,7% e 12%, respetivamente, ou seja, inferior à oferecida pelos bancos espanhóis, que no mínimo cobram 12,3%.