i num instante já temos sete anos

i num instante já temos sete anos


2009 foi o ano de todas as eleições. José Sócrates foi reconduzido nas legislativas mas perdeu a maioria absoluta e ainda foi ano de autárquicas e de europeias. Durão Barroso foi reeleito como presidente da Comissão Europeia, Obama estreou-se como presidente dos EUA. A crise estava no pico, Manuel Pinho fez chifres no parlamento, os piratas…


Faz hoje 97 anos que, a 7 de maio de 1919, a lei portuguesa passou “a contemplar as oito horas de trabalho”.Faz hoje 71 anos que o exército alemão “se rendeu incondicionalmente”, a 7 de maio de 1945. Faz hoje 25 anos que a Guiné-Bissau consagrou o multipartidarismo, 21 que Jacques Chirac foi eleito presidente da República Francesa e faz 7 anos que nasceu, em contracorrente, um novo projeto jornalístico. Hoje, 7 de maio, faltarão 238 dias para que 2016 acabe. Hoje, 7 maio, é o centésimo vigésimo oitavo dia do ano. Hoje, 7 de maio, o i casa os anos.

Um “novo mundo”, apresentava-se assim o recém-nascido, ainda mal adivinhando as distinções de que seria alvo no futuro. O mundo dá muitas voltas. (Num tempo em que a comunicação social sua, reinventa-se, cai de novo e ainda não sabe como será o futuro, o i não foi exceção. Mas a vontade de continuar e soprar muitas e mais velas permanece, intacta.)

 Voltemos à efeméride, que hoje é (quase) dia de memórias. Nessa primeira edição, o i serviu um número bem recheado: em manchete, a limitação da entrada de imigrantes em Portugal numa altura em que o desemprego galopava. 

Também na capa, declarações [à distância de sete anos, que trouxeram novos bancos] curiosas: “Banqueiros portugueses, como Fernando Ulrich (BPI), José Maria Ricciardi (BES) e Abdool Vakil (Efisa), dizem-se alvo de desconfiança. A culpa é da crise financeira. Ser gestor de um banco ou de uma instituição financeira já não é sinónimo de prestígio social.” 

E a cinco meses das autárquicas – que decorreram a 11 de outubro –, o urbanismo em Lisboa também já era notícia, mas as obras eram outras. A câmara estava a negociar um plano com a Administração do Porto de Lisboa para retirar o terminal dos contentores de Alcântara e ali criar um jardim. O terminal não só continua no espaço como se continua a falar da expansão do mesmo. Em 2009, o Instituto de Medicina Legal guardava 48 cadáveres que nem a instituição nem a Polícia Judiciária conseguiam identificar. O último destes corpos sem identificação – encontrado junto à estrada de Paço de Arcos – deu entrada em setembro de 2015.

Com chamada de capa vinha a entrevista exclusiva do i e do “New York Times” a Barack Obama, presidente há cinco meses. “No fim da conversa, quando lhe perguntei se estava a ler alguma coisa interessante, disse que estava de tal modo saturado de ler relatórios e memorandos que tinha começado a ler um romance ligeiro aos serões: ‘Netherlands’, de Joseph O’Neill”, escreveu o jornalista David Leonhardt em Washington. Num instante tudo muda, mas o reeleito Obama continua commander-in-chief. Até 8 de novembro. Este não era, no entanto, o único artigo publicado pelo i em parceria com o diário norte-americano. No Mais, uma peça sobre tatuagens como forma de publicidade: “30, 300 ou 3000 euros é o que pode receber um inglês ou um americano por deixar que a sua pele se transforme num espaço publicitário.” Deste lado do Atlântico, as histórias do Mais traziam a notícia da abertura do primeiro lar gay de idosos em Lisboa – com um localização altamente secreta – e ainda “o santuário de uma fanática de Star Trek”. 

O que diziam os jornais A 7 de maio de 2009, a fotografia em manchete do “Público” mostrava o então primeiro-ministro José Sócrates, de perfil, com Manuela Ferreira Leite – presidente da comissão política nacional do PSD – desfocada, ao fundo. O título? “Quem diz que eles são inconciliáveis?” A 27 de setembro de 2009, Sócrates venceria as eleições mas perderia a maioria absoluta. Era o início de um inconciliável declínio. 

Também na primeira página, o “Público” contava que tinha chegado ao parlamento uma petição que queria proibir animais nos circos. Por cá nada mudou mas, nos EUA, um dos maiores circos norte-americanos, Ringling Bros and Barnum & Bailey’s, deixou, esta semana, de usar elefantes em espetáculos. 

Já o “Diário de Notícias” fez, a um mês das europeias, “um grande inquérito” aos cinco candidatos: Vital Moreira, Paulo Rangel, Ilda Figueiredo, Miguel Portas e Nuno Melo. O “Jornal de Notícias” destacava a criminalidade, dizendo que as “perícias médicas travam fuga de máfias do leste”. Na capa vinha ainda a imagem e a notícia de que o ministro da Economia, Manuel Pinho, arranjara colocação, depois de almoço, a um grupo de desempregados que protestara durante a manhã. A 7 de maio de 2009 faltavam menos de dois meses para que o ministro fizesse chifres para a bancada do PCP, notícia que correu mundo.

A “Visão” destacava, nessa quinta-feira, o H1N1, a pandemia de gripe A que atemorizou a população, e fazia um balanço ao mandato de Durão Barroso antes de ser reconduzido por mais cinco anos. A revista “Sábado” também celebrava, neste dia, cinco anos de existência na “nova versão”.

Lá fora, o “El País” dizia que a Colômbia, Cuba, Haiti e Venezuela estavam na mira da Comissão Interamericana dos direitos humanos, falava dos piratas da Somália e noticiava que já havia 88 infetados com gripe A em Espanha.

O francês “Liberátion” também destacava as regras da imigração e, nos Estados Unidos, o “New York Times” publicava, a pensar no passado, presente e futuro, um artigo intitulado “O que acontece ao sonho americano numa recessão”. 

O sonho do i faz 7 anos. Sete anos a querer fazer mais, melhor e diferente. Mesmo num tempo em que a balança demográfica da comunicação social está desequilibrada, com mais mortes do que nascimentos: por isso, apagar as velas mais um ano só pode ser motivo de celebração.