1) Não se sabe se é proveniente de uma bactéria ou de um vírus, mas é uma realidade comprovada que está a preocupar a comunidade médica mundial e para a qual a Organização Mundial da Saúde já deve estar a olhar.
Consta que uma amostragem demonstra que existe uma amnésia do Panamá que atinge a moleirinha dos titulares de contas offshore criadas a partir daquele país, apesar de todos os esforços feitos para cobrir a careca de quem recorreu aos serviços prestados naquela zona do mundo económico através da chapelaria Mossack Fonseca.
O preocupante caso está espalhado por todo o mundo, infetando gente de países e territórios muito diferentes, a começar na Islândia, seguindo por Inglaterra e chegando mesmo à nossa Madeira, com passagem para o território continental lusitano.
O flagelo caracteriza-se, segundo os especialistas, por um súbito apagamento de memória de tudo o que se relacione com a vida económica dos atingidos, que de imediato perdem qualquer sentido de orientação relativamente a atos passados relacionados com aquela zona da América Latina. O denominador comum é, como se disse, a relação com uma entidade que está na origem da infeção, a qual alastra semanalmente conforme os boletins revelados pelo “Expresso” e a TVI. Curiosamente, nas pessoas coletivas, como os bancos, não há propriamente amnésia quanto à relação com tudo o que é offshore, verificando-se antes uma epidemia de omissões e apagões.
A boa notícia é que parece haver uma disponibilidade para muitas fundações e até laboratórios juntarem esforços para desenvolverem antídotos para esta epidemia. Fala-se da disponibilidade da Bial e de Ilídio Pinho, uma vez que a Fundação Espírito Santo não tem este tipo de missão humanitária nos seus propósitos.
Dados recentes assinalam que o avanço da epidemia tem muito a ver com países onde a informação circula com mais fluidez, sendo raríssimos os casos onde a comunicação com as grandes massas está mais controlada, como o continente africano, o Leste europeu e a Ásia, onde deixaram de ser reportados surtos deste mal pela respetiva comunicação social.
Nos Estados Unidos nota-se com curiosidade a circunstância de praticamente também não haver casos conhecidos, o que leva a que haja quem admita que é de lá que o vírus ou a bactéria partiram para a infeção generalizada em curso. Este fenómeno lateral está a dar origem a uma teoria de conspiração semelhante às que já houve a propósito de outras epidemias, como a sida.
Curiosamente, entre nós, o que se vai sabendo sobre o preocupante fenómeno não tem, porém, suscitado da parte dos reguladores e das autoridades sanitárias especializadas qualquer tipo de combate ativo ao fenómeno.
Num registo mais sério e não ficcional, há que dizer que a história contada pelos jornalistas não trouxe praticamente nenhuma surpresa quanto aos titulares de contas offshore, que se sabe serem legais em certos casos. Num país com o nosso periclitante sistema bancário, não admira que houvesse quem desconfiasse dele e pusesse o dinheiro lá fora, começando, aliás, por alguns banqueiros trafulhas que se serviam da sua instituição para duas coisas: criar uma espécie de pirâmide que rebentou, como sucedeu no caso BES e, de passagem, safar uns milhões de cascatas tipo Dona Branca que acabam sempre mal.
Tirando um anónimo cidadão beirão mal conhecido até dos seus conterrâneos mais ilustres e atentos, os nomes dos Papéis do Panamá são sensivelmente os que se poderiam prever com alguma dose de razoabilidade. Neles constam gente que apareceu publicamente a opinar, invocando bastas vezes imperativos patrióticos. Não é, porém, por constarem da lista que alguns perderam a lata e a jactância de continuar a perorar sabiamente sobre política, economia e ética, se for preciso.
Mesmo que não se possa formalmente acusar alguém por ter uns milhões lá por fora, há pelo menos que reconhecer que os offshores são sítios muito mal frequentados, o que deveria levar alguns a ter recato. Mas como se diz em Portugal, “quem não tem vergonha, todo o mundo é seu”.
2) Grande lata. Vítor Constâncio, um dos cegos que não quiseram ver o caso BPN, diz que não tem de vir a Portugal prestar declarações à comissão de inquérito ao Banif porque só reporta ao BCE. Pena que não haja um mecanismo que lhe retire a nacionalidade portuguesa, que assim não dignifica.
3) Bons ofícios. Como foi dito nesta coluna, Marcelo Rebelo de Sousa vai ser um dos intermediários na negociação de uma nova paz em Moçambique. Percebeu-se quando o presidente moçambicano veio à posse de Marcelo e quando este escolheu o Vaticano para primeira deslocação externa. Confirmou-se agora na visita a Itália e na que decorre a Moçambique. O instrumento ativo voltará a ser a Comunidade de Santo Egídio, que já mediou a primeira pacificação moçambicana.
Jornalista